Crítica: Free Fire – O Tiroteio
Você pode não conhecer seu nome ou ter visto nenhum de seus filmes, mas o britânico Ben Wheatley é um dos cineastas mais interessantes desta última década. Subversivo por natureza, começou pequeno com o thriller Down Terrace e logo em seguida partiu para o chocante terror Kill List, que o colocou no holofote de críticos e festivais.
Após os também celebrados Sightseers e A Field in England, Wheatley enfim se envolveu com projetos de maior prestígio, o primeiro deles sendo No Topo do Poder, sci-fi distópico protagonizado por Tom Hiddleston e Jeremy Irons que também trazia grande esmero em seus sets e figurinos, representando uma mudança de escala para seu diretor. Em 2017, apenas 1 ano após o lançamento de seu sci-fi, Wheatley voltou com um ótimo projeto, de moldura hollywoodiana e conteúdo essencialmente experimental: Free Fire – O Tiroteio.
A premissa deste longa é espetacularmente simples: dois bandos de criminosos se encontram em um galpão para uma troca de mercadorias, até que impasses ocorrem e tudo vai pelo ralo. Essas mercadorias, não por acaso, são metralhadoras, e estas não ficarão em desuso. Sem entregar intricações do enredo, gostaria de atestar que, enquanto apaixonado por cinema desde jovem, são raros os filmes com uma alma ao mesmo tempo tão simples e subversiva. Posso imaginar Wheatley em sua infância, montando mentalmente as mais loucas sequências de ação, assim como muitos de nós fazíamos (e ainda fazemos). Neste caso, a imaginação se concretizou.
Ainda que Free Fire seja um filme pequeno, o calibre e extensão de seu elenco são deslumbrantes. Temos Brie Larson, Cillian Murphy, Sharlto Copley, Armie Hammer, Sam Riley, Jack Reynor, Noah Taylor e mais! Encarnando personagens bastante simples, o elenco brilha em suas interações, fortalecidos pelos diálogos divertidos escritos por Wheatley e sua frequente colaboradora Amy Jump. Falando em colaboração frequente, é bom ver o ator Michael Smiley, brilhante nos filmes anteriores de Wheatley, mantendo-se na altura e até mesmo roubando a cena de estrelas como Larson e Hammer.
Quem espera um filme de ação tradicional de Free Fire pode acabar com sentimentos mistos. Apesar de clássico em realização, o longa traz o comprometimento inigualável que Wheatley costuma ter com seus conceitos (A Field in England, por exemplo, é literalmente uma viagem causada por cogumelos). Quando o tiroteio do título tem seu início, tal ação segue até o último plano, mesmo que seus personagens, feridos, tenham que rastejar para lá e para cá lentamente. Claro, em certo ponto a monotonia é praticamente inevitável, mas isso mesmo já torna Free Fire uma experiência difícil de ignorar. Enquanto os games trouxeram novo ritmo a tiroteios com os elementos de cobertura, Wheatley repensa seu formato nas telonas com grande gosto pelas interações humanas.
Tendo como produtor executivo o inigualável Martin Scorsese, Free Fire – O Tiroteio traz o diretor Ben Wheatley disposto, como sempre, a construir uma experiência original a partir de elementos já tão banalizados. Isso, sozinho, já merece o respeito de uma legião de fãs.
Free Fire: O Tiroteio já está disponível para compra e aluguel pelo Google Play.