Crítica: Ghostbusters – Mais Além
Logo antes da sessão de imprensa de Ghostbusters: Mais Além começar, um breve vídeo com o diretor Jason Reitman foi exibido, no qual o realizador atesta que o filme a seguir será uma grande caça a easter eggs para fãs do filme original. Considerando o legado do longa de 1984, esse parece o caminho fácil a ser seguido, trilhando um curso similar a Star Wars: O Despertar da Força ao apresentar um novo elenco de personagens que lidam diretamente com as marcas do passado vivido por Peter (Bill Murray), Ray (Dan Aykroyd), Egon (Harold Ramis) e Winston (Ernie Hudson). Ao invés de oferecer uma aventura realmente inédita, Reitman se contenta a desenhar uma trama que compila uma espécie de melhores momentos do original dirigido por seu pai, Ivan Reitman.
Por um momento, Mais Além parece esboçar uma aventura relativamente original. Transportando a ação para uma cidadezinha no interior, Reitman introduz seus elementos narrativos com paciência, focado antes de tudo na construção das personagens Phoebe (Mckenna Grace), Trevor (Finn Wolfhard) e sua mãe (Carrie Coon), que se mudam para a fazenda do falecido avô – cuja identidade, crucial para a conexão com o primeiro filme, é lentamente detalhada. Não por acaso, a primeira hora da sequência é melhor do que se espera dada a descrição fornecida pelo diretor, com o equilíbrio certo de nostalgia – os temas de Elmer Bernstein são resgatados com certa elegância – e novidade. O bom elenco, que ainda inclui Paul Rudd como um professor, traz a dose correta de charme para uma produção de ambições modestas.
Até que chega o resto do filme. Alusões discretas são trocadas por easter eggs dos mais óbvios – os mini marshmallows stay puft são gratuitamente inclusos – e as reais intenções do longa são entregues de bandeja. Esta é uma obra feita “para fãs”, no mais franco sentido da expressão. Não há como culpar ninguém ferrenhamente pela opção: o original é uma grande peça da cultura pop que não foi tão acertadamente celebrada quanto algumas outras contemporâneas. Com exceção do – surpreendente – videogame de 2009, que expandiu o universo da franquia e representa a única sequência no século XXI a trazer o elenco veterano inteiramente de volta – Harold Ramis ainda estava vivo -, Os Caça Fantasmas 2 era um mero repeteco e o reboot de 2016 trocava a concisão e a organização pela comédia histriônica pós-SNL baseada em improvisos. Há espaço e fôlego de sobra para celebrar a marca, que merece, de fato, o devido reconhecimento.
O problema aqui, no entanto, está na já mencionada obviedade, que em questão de minutos se torna completa segurança. Não só a estrutura narrativa é copiada sem dó, como os caça fantasmas – perdão, “Ghostbusters” – enfrentam exatamente a mesma ameaça que seus quatro precursores encararam em 84. A falta de surpresa, de espanto, se reflete também nos grandes “payoffs” que não vão enganar a intuição de ninguém minimamente informado sobre a produção. Ghostbusters: Mais Além termina como um capítulo de transição para uma sequência “pra valer”, como uma dispensável peça em um quebra-cabeças cuja solução é marcadamente previsível. Enquanto não chega o próximo capítulo, a franquia é deixada em uma confortável posição de reverência vazia, o que com certeza vai enganar a fome dos fãs menos exigentes, mas não vai agradar qualquer um esperando por uma aventura mais apaixonada pelo oculto e o desconhecido.