Crítica: Kong – A Ilha da Caveira
Se Godzilla equivale a Brian Mills, de Busca Implacável, em sua forma lenta e robusta, então o novo Kong pode ser comparado a Jason Bourne em sua audácia e agilidade.
Enquanto o último longa americano do lagarto gigante era consideravelmente econômico quanto às aparições da criatura, Kong: A Ilha da Caveira não tarda a expor a fera do título em sua completa glória destrutiva.
Com direção do novato indie Jordan Vogt-Roberts (Os Reis do Verão), o novo longa do rei símio funciona como continuação do universo conectado de monstros apenas sugerido em Godzilla. Após os tropeços da DCEU e com a Disney praticamente imbatível com suas propriedades Marvel e Star Wars, a Warner precisava reconquistar seu espaço entre os grandes estúdios.
Seria Kong: A Ilha da Caveira um grande retorno à forma para o estúdio? Bom, apesar de não quebrar paradigmas, a resposta é em grande parte positiva e favorável.
Partindo de uma ótima cena inicial que não entregarei aqui, Kong: A Ilha da Caveira rapidamente configura as posições de cada uma de suas peças para que uma nova equipe de cientistas, escoltados por militares, chegue à misteriosa ilha, para apenas, um a um, serem criativamente descartados nas mãos, patas ou tentáculos de criaturas diversas.
Não farei o esforço de listar seu elenco, afinal nem o próprio filme parece ter controle disto. Há, claro, nomes de peso como Tom Hiddleston, Brie Larson e Sam Jackson (curiosamente, três membros do Marvel Cinematic Universe), mas este é o famoso caso no qual maior não é necessariamente melhor. A grande variedade de nomes trabalha contra a identidade humana do filme, limitando ainda mais o espaço de cada componente em tela. Sobressai-se, contudo, John C. Reilly (Cyrus, Quase Irmãos), no papel de um homem que há muitos anos sobrevive na hostil ilha.
Já o diretor Vogt-Roberts não faz feio em sua primeira incursão blockbuster, demonstrando criatividade na ação, apesar da falta de firmeza ao conduzir os diálogos entre o elenco. Outro elemento esperado mas ainda assim prejudicial é o roteiro de Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connoly, que além de unidimensional falha miseravelmente nas tentativas de humor (se é que eram tentativas).
Tecnicamente, Kong: A Ilha da Caveira também é inconsistente. Enquanto a fotografia do ótimo Larry Fong (Watchmen, Batman vs Superman) traz algumas imagens marcantes e que tiram o fôlego, o trabalho de efeitos por vezes a prejudica, principalmente em certos momentos green-screen que parecem criados na década passada. A colorização hipersaturada também traz resultados variados, ora vibrante, ora excessivamente artificial. Por fim, a montagem de Richard Pearson (O Contador) traz problemas estruturais e a trilha de Henry Jackman (Capitão América: Guerra Civil) mostra competência sem surpreender.
Enfim, vamos ao que importa: monstros! Posso dizer que, no departamento de criaturas, Kong: A Ilha da Caveira não decepciona. Há aranhas, lagartos, polvos e uma série de outros animais que nem sei definir. Destaca-se, em termos de escatologia, o aracnídeo, que nos apresenta uma nova maneira de impalar humanos criativamente (pode soar um pouco doente, mas se existe algo que eu veria o dia todo, seriam aranhas impalando pobres figurantes).
A estrela, claro, é Kong, imponente desde o momento no qual destrói, sem esforço algum, uma frota inteira de helicópteros (algo massivamente divulgado nos trailers). O macacão também demonstra seu citado lado Bourne de ser durante a excelente luta final, na qual improvisa com troncos, correntes e turbinas enferrujadas para causar o máximo de dano. De fato, é empolgante testemunhar tamanha diversão em um gênero que parecia capengar cada vez mais no quesito – isso mesmo – diversão.
Anunciado como uma apresentação em IMAX, devo dizer que A Ilha da Caveira não o parece, afinal seu espaço de tela nunca expande para além das barras letterbox, nem mesmo em seus momentos mais vívidos e espetaculosos. Por outro lado, a tecnologia 3D realmente impressiona, com uma estereoscopia que não só gera imersão mas também realça a escala da ação, algo que o Godzilla de Gareth Edwards já havia timidamente experimentado. Há efeitos de partícula diversos, como poeira, fumaça, névoa e suor (risquem este último, eram apenas meus óculos 3D embaçados).
Aos decepcionados com a última iteração cinematográfica de Godzilla, asseguro que Kong: A Ilha da Caveira está muito mais para a diversão despretensiosa de Círculo de Fogo do que para a pretensão sóbria de Gareth Edwards. Por outro lado, aos que procuram um blockbuster repleto de personalidade e peso, este Kong é, no máximo, um peso-pena.
[Já que nem tudo é perfeito nesse mundo, há uma cena pós-créditos.]
FICHA TÉCNICA
Direção: Jordan Vogt-Roberts
Roteiro: Dan Gilroy, Max Borenstein, Derek Connoly
Elenco: Tom Hiddleston, Brie Larson, Samuel L. Jackson, John C. Reilly, Toby Kebbel, Shea Whigham, Corey Hawkins
Produção: Alex Garcia, Jon Jashni, Mary Parent, Thomas Tull
Fotografia: Larry Fong
Montagem: Richard Pearson
Trilha Sonora: Henry Jackman
Duração: 118 min
Distribuição: Warner Bros Pictures
Gênero: Ação / Aventura
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