Crítica: Logan Lucky – Roubo em Família
Steven Soderbergh é um dos diretores mais ecléticos da atualidade. Não só o homem navega pelos mais diferentes gêneros e premissas, como também executa diversas funções técnicas em cada um de seus filmes, assumindo seus famosos pseudônimos. Há alguns anos atrás, quando Soderbergh anunciou sua aposentadoria do cinema, sua perda já era sentida. Felizmente, era apenas sofrimento por antecipação, e agora o diretor está de volta aos cinemas com seu excepcional Logan Lucky – Roubo em Família.
Logan Lucky conta a história dos irmãos Logan, em sua missão de roubar quantidades exorbitantes de dinheiro durante uma corrida da NASCAR. A motivação? Jimmy (Channing Tatum, Kingsman: O Círculo Dourado), o irmão mais velho, foi demitido de seu emprego como peão de obra, justamente durante seu trabalho no local da futura corrida. Com seu conhecimento da estrutura, arquiteta um plano minucioso com seu irmão caçula, Clyde (Adam Driver, Paterson), recebendo também a ajuda da irmã Mellie (Riley Keough, Ao Cair da Noite). Mas o que seria uma história de roubo sem um especialista pra roubar a cena? É aí que entra o notável Joe Bang (Daniel Craig), que é tirado da prisão pelos irmãos para prestar consultoria e também executar o arrombamento do enorme cofre em suas miras. E já falei que todos têm aquele sotaque acentuado do sul americano?
Diferente do que sua sinopse faz esperar, Logan Lucky não é simplesmente uma versão caipira de Onze Homens e Um Segredo. Onde o último encaixava um estilo bastante afetado, no clima extravagante de Las Vegas, este novo filme apresenta a condução contida dos longas mais recentes de Soderbergh (incluindo o primeiro Magic Mike). Essa simplicidade deixa a elaborada trama com um ar mais natural e crível do que é o costume no subgênero dos filmes de roubo. Além disso, o foco acertado em seu rico elenco de personagens garante o envolvimento do espectador, mesmo que este não entenda os acontecimentos por inteiro.
O divertido roteiro, então, é encabeçado por um mistério. Creditado no nome de Rebecca Blunt, pseudônimo comprovado, acredita-se que o texto de Logan Lucky seja assinado por uma das seguintes pessoas: o próprio Soderbergh; a esposa do diretor, Jules Asner; ou, estranhamente, um radialista chamado John Henson. Não vou ir a fundo quanto a quem merece o crédito aqui, mas posso dizer que o dito cujo fez um ótimo trabalho, tornando-se um nome promissor para os próximos anos. Imagina se rolar indicação ao Oscar?
Por sua vez, o elenco também brilha sob a condução experiente de Soderbergh e a guia do texto de Blunt. Channing Tatum continua evoluindo na sua própria maneira, com uma tranquilidade que não pode ser confundida por inexpressividade. Já Adam Driver, como dizem alguns cinéfilos por aí, está a caminho de se tornar o novo Tim Blake Nelson, sempre com seu charme peculiar. Mas o quê seria de Logan Lucky sem o camaleão que está Daniel Craig? Com os cabelos descoloridos e diversas tatuagens, o britânico faz o que pode para soar americano e no processo cria um dos personagens coadjuvantes mais divertidos do ano, podendo muito bem receber indicações assim que a temporada de prêmios for anunciada. Para fechar, há ainda uma gama de intérpretes talentosos em papéis pequenos mas muito simpáticos, como Katherine Waterston, Katie Holmes e, para minha surpresa, Seth McFarlane.
A principal estrela ainda assim é Steven Soderbergh, que parece ter capacidade infinita para entreter o público e também adicionar à experiência uma sensibilidade particular. Há um epílogo, por exemplo, que é surpreendentemente silencioso e agridoce, alentando sem medo o ritmo de sua história e testando as expectativas do público, algo que apenas um mestre no calibre de Soderbergh faria funcionar (apesar do notável deslize no letárgico À Toda Prova).
Com montagem de Mary Ann Bernard e fotografia de Peter Andrews, ambos pseudônimos do diretor, Logan Lucky – Roubo em Família é diversão garantida para quem quer um filme agradável e facilmente digerível, mas que também irá agradar aos que esperam um entretenimento inteligente, cool e cheio de charme como os melhores filmes de Steven Soderbergh.
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