Crítica: Mal Nosso
Saiba o que achamos do longa independente brasileiro que conquistou espaço no exterior
Que o cinema brasileiro só melhora a cada ano que passa, isso já é algo evidente. Mas quando também é possível ver gêneros que fazem muito sucesso lá fora (como o terror) sendo aprofundados da mesma maneira por aqui, este é mais um motivo para se orgulhar. Mal Nosso (Our Evil) foi produzido de maneira 100% independente, com recursos próprios e sem a utilização de leis de incentivo ou patrocínio. Mesmo com todos os desafios pelo caminho, o longa se sobressai por ter uma narrativa intrigante e misteriosa, além de muitas cenas fortes e marcantes que demarcam a audácia do projeto.
O primeiro longa do diretor e produtor Samuel Galli é uma combinação de terror, suspense e drama que costura muito bem com uma narrativa singular, evitando fazer com que o espectador “adivinhe” o que pode acontecer. Mal Nosso foi exibido no Marche du Film em Cannes e em diversos festivais pelo mundo e merece sua atenção!
“Nas entranhas de São Paulo, segue a história de um espiritualista que, após receber um aviso de que um poder demoníaco está a caminho para destruir a alma de sua filha, contrata um serial killer no esforço de protegê-la.” Pode parecer que a sinopse já entrega a essência da história, mas na realidade não é bem assim. É muito interessante como o diretor constrói e desconstrói a história de Arthur (Ademir Esteves), que possui poderes mediúnicos.
Ao começar o longa com imagens fortíssimas (dignas de comparações com O Albergue), o que pode parecer um filme de horror acaba se tornando muito mais, e todas as camadas vão sendo trabalhadas lentamente. O espectador precisa de paciência para prestar atenção aos detalhes, entender o progresso da narrativa e captar as histórias dos personagens.
Gravado em 25 dias em 2015, o filme possui uma estrutura diferenciada e que instiga a imaginação. O que até poderia dar errado pela junção de gêneros diferentes em um único filme, Mal Nosso acaba por entregar um resultado incrível graças a sua boa direção e montagem. A fotografia e a trilha sonora também são fatores que merecem muita atenção, pois atuam como personagens na trama.
Quando o roteiro e a técnica estão alinhados, dificilmente algo sairá fora do lugar – ainda mais com a adição de personagens bem desenvolvidos e um roteiro original que sabe guiar muito bem as reviravoltas. Mal Nosso é uma grande e bem-vinda surpresa para o cinema brasileiro de 2017.
Sobre Samuel Galli
Formado em Direito e proprietário de um restaurante em Ribeirão Preto – SP, Galli fez um curso de cinema na NYFA, em Los Angeles. Desde então, até 2015, se dedicou aos estudos de roteiro, direção, direção de fotografia, edição e produção. Juntou suas economias, adquiriu os equipamentos e se uniu à produtora Kauzare Filmes e produziu o filme. Ele aposta em Mal Nosso (Our Evil), seu filme de estreia, como um cartão de visita no cinema independente de terror. E já trabalha no roteiro de seu próximo longa, um thriller com toques de horror.