Crítica: Mr. Robot (1ª temporada)
As séries de TV estão garantindo um espaço maior tanto em audiência como em crítica, e um ótimo exemplo de sucesso é a série Mr. Robot, criada por Sam Esmail para o canal USA Network. Com apenas uma temporada até agora, a série já é vencedora do Globo de Ouro 2016 nas categorias Melhor Série de Televisão em Drama e Melhor Ator Coadjuvante (Christian Slater). Mr. Robot chegou com tudo e, com muitas referências que vão de V de Vingança à Clube da Luta, possui muita originalidade e é um drama de primeira classe.
A história se passa em torno de Elliot Alderson (Rami Malek), um jovem técnico de segurança da internet que trabalha para uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, a Allsafe. Na verdade, isso é o que ele faz durante o dia, porque em seu tempo livre ele é um hacker muitíssimo inteligente que usa o que está ao seu alcance para fazer o bem. Ele é basicamente um Dexter – só que ao invés de fazer o bem assassinando pessoas más, ele simplesmente as hackeia. Desde o primeiro episódio, é fácil notar que Elliot é um personagem curioso e que possui problemas psicológicos: ele não consegue se socializar tão fácil (sua única amiga de infância é Angela, vivida por Portia Doubleday) e é viciado em morfina. Rami Malek se mostrou um ótimo ator expondo os distúrbios e receios do personagem. Além disso, Elliot compartilha seus pensamentos com o espectador (que é seu amigo imaginário), e faz discursos preciosos sobre a sociedade atual. É inquietante ver que no meio de tudo isso ele não consegue diferenciar o que é real e o que é mentira. Essa interação está acontecendo ou não? Quem assiste realmente fica desconfiado e se perguntando isso em todos os episódios.
A trama principal foca em um projeto de um grupo de hackers chamado F-Society (liderado pelo lunático Mr. Robot) que pretende destituir os CEOS’s da multinacional E Corp (chamada por Elliot como Evil Corp) e, assim, libertar a sociedade do capitalismo opressor. Elliot, com seus ideais anarquistas, se identifica e, apesar de sua relutância inicial, percebe o que esse grupo é capaz de fazer e se vê impossibilitado de fugir da situação. Um dos feitos incríveis de Mr. Robot é que os personagens ganham sua voz e importância no decorrer dos episódios. Darlene (Carly Chaiklin), Tyrell Wellick (Martin Wallström) e, claro, o Mr. Robot em pessoa (interpretado com excelência por Christian Slater) são personagens muito bem trabalhados que vão se encaixando na trama de maneira perfeita. Destaque também para Gideon (Michel Gill), o CEO da Allsafe; Shayla (Frankie Shaw), vizinha de Elliot; e o enigmático Whiterose (BD Wong).
O tom da série que é mantido a todo o momento é o suspense, assim como o sentimento de desconfiança do personagem principal. Os enquadramentos dos episódios prendem ainda mais a atenção por serem fora do costume. Alguns dos planos não são centrados e apresentam os personagens nas laterais da tela; ou então, com a câmera mais abaixo, mostra-se mais o ambiente do que o personagem em si, principalmente durante diálogos. O inteligente jogo de câmeras consegue expor os sentimentos de cada pessoa: se ela está com medo, com raiva ou se está confiante. O diretor de fotografia, Tod Campbell, quis inovar nos aspectos técnicos e é justamente isso que dá um tom extremamente singular na série.
Mr. Robot merece nossa atenção pois é desafiadora e excelente. É a melhor surpresa que tive em relação à séries de TV em um tempo e, já que possui a garantia de uma segunda temporada, tenho certeza que continuará surpreendendo a mim e a todos os fãs.
A série é exibida no Brasil pelo canal Space.
“Alguma coisa aqui é real? Quero dizer, olhe ao seu redor. Um mundo construído sobre a fantasia. Emoções sintéticas sob a forma de comprimidos; guerra psicológica na forma de publicidade; produtos químicos na forma de alimentos que alteram a mente; seminários de lavagem cerebral sob a forma de meios de comunicação; bolhas isoladas controlada sob a forma de redes sociais. Realidade? Nós não vivemos qualquer coisa remotamente perto disso desde a virada do século. Nós desligamos, tiramos as baterias, comemos um saco de chocolate enquanto nós nos tornamos cada vez mais o lixo da condição humana. Nós vivemos em casas de marcas registradas por sociedades construídas sobre números bipolares, pulando para cima e para baixo em monitores digitais, hipnotizando-nos para o maior sono que a humanidade já viu. Você terá que cavar profundamente, antes de encontrar qualquer coisa real aqui. O mundo é tão real quanto o hambúrguer do seu Big Mac.”
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