Crítica: O Estrangeiro

Crítica: O Estrangeiro

Novo longa-metragem de Martin Campbell envolve e entretém, mas falha na coesão narrativa de seus arcos

Martin Campbell, diretor do memorável 007 – Cassino Royale (2006), traz em seu novo filme uma boa direção de atores, além de uma interessante direção de cenas de ação – muito bem interpretadas por Jackie Chan em seus 63 anos. Já Pierce Brosnan está em um papel mais controlado, sem a necessidade de estar lutando e matando homens como fazia em 007 Contra GoldenEye (1995), também dirigido por Campbell. O Estrangeiro tem bons acertos individuais, mas é ao unir todos eles e encaixá-los de forma que acrescente à história de maneira geral que o roteiro escorrega.

A sinopse é simples e eficiente. Quan (Jackie Chan) é dono de um típico restaurantes chinês em Londres, capital da Inglaterra. Após um misterioso ataque de um grupo de terroristas irlandeses ao seu estabelecimento, tem sua vida e família devastadas. Sem muito apoio da polícia local, ele vai buscar vingança com as próprias mãos.

Certamente não é uma premissa original, mas a originalidade do filme está na inclusão de pequenos arcos com vários personagens e na apresentação de diferentes pontos de vistas conforme o enredo se molda. Acompanhamos a cautela e o planejamento dos terroristas, a preocupação e poder do primeiro ministro inglês (Pierce Brosnan), e também a angústia e revolta de Quan por perder sua filha. Mas se tudo isso é um acerto, é ao mesmo tempo um terrível problema, pois a identificação com o protagonista é comprometida para tentar dividir a atenção do espectador com a situação dos outros personagens. Em alguns momentos, principalmente durante o segundo ato do filme, Quan aparece poucas vezes, uma vez que o roteiro procura expor a relação entre os políticos, os terroristas e algumas relações extraconjugais.

As cenas de ação são preservadas com o ótimo timing da montagem e dos enquadramentos propostos pela fotografia, dando chance do público compreender todos os movimentos dos atores e inclusive crer na eficiência daqueles golpes, pois não são poucos os filmes em que a câmera (por ineficiência ou proposta estética) não acompanha exatamente todos os momentos dos confrontos corpo a corpo. Ao mesmo tempo, não é difícil notar boas interpretações de Brosnan e Chan, atores experientes que adentram seus personagens com extrema facilidade – algo que sempre agrega a qualquer filme de ação.

Quem perde chance de aparecer e deixar o filme mais intrigante, é a trilha musical, que se mostra apagada, com harmonias tímidas que fazem necessário um esforço do espectador para saber sequer que elas estão sendo tocadas. Ao mesmo tempo que as cores frias do filme refletem o estado emocional do protagonista, mas que também não ganham tanto destaque quanto mereciam. Pela grande quantidade de personagens, o filme ora se propõe a dissecar seu protagonista em busca de vingança, ora mantém seu foco nas sujeiras políticas inglesas; e isso não ajuda na exploração de seus personagens, inclusive do principal (Quan).

O filme não abusa de efeitos visuais. Na verdade, utiliza do mínimo possível para divertir o espectador, dando foco para o desenvolvimento de seus arcos. O Estrangeiro é uma atraente oportunidade de ver novamente Jackie Chan a todo vapor em suas cenas de ação sem dublês, e também acompanhar uma (ou mais de uma) história cativante, ainda que com alguns problemas para interligar seu enredo.

FICHA TÉCNICA
Direção: Martin Campbell
Roteiro:
David Marconi
Elenco: Jackie Chan, Pierce Brosnan, Michael McElhatton, Liu Tao, Charlie Murphy, Orla Brady, Katie Leung,  Ray Fearon, Dermot Crowley, Rory Fleck-Byrne, Lia Williams
Produção: Jackie Chan, Wayne Marc Godfrey, Arthur Sarkissian, Scott Lumpkin, Jamie Marshall
Fotografia: David Tattersall
Montagem: Angela M. Catanzaro
Gênero:
Ação / Thriller
Duração: 114 min.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.