Crítica: O Ornitólogo
O quê dizer de O Ornitólogo, novo filme do português João Pedro Rodrigues?… Realmente, o quê dizer? Não há dúvida de que a maioria dos espectadores, assim como quem escreve, sairão da sessão sem a mínima ideia de como reagir a uma obra tão belamente estranha, que faz parte do projeto Sessão Vitrine Petrobras.
O longa-metragem segue o (conturbado) trajeto do ornitólogo do título por uma mata remota nos limites de Portugal. No ofício de observar aves, acaba se distraindo e sofre um acidente em um rio. Felizmente (ou não), é encontrado por uma dupla de turistas chinesas, e logo é introduzido a uma espiral de situações misteriosas, fazendo-o questionar sua sanidade e até mesmo sua identidade.
Com o francês Paul Hamy no papel do protagonista Fernando (falando um português impecável), a jornada majoritariamente solitária consegue se manter interessante até os momentos finais, que são facilmente os mais surreais do longa.
Em chave de terror psicológico, Fernando se depara com uma série de acontecimentos intrigantes: sequestro, cultos folclóricos, e até mesmo amazonas armadas com rifles. No entanto, o momento inesquecível fica sob a forma de uma sequência perturbadora envolvendo amarras e uma barraca (deixarei vago com fins de preservar a surpresa).
Muito se fala, nas diversas críticas e opiniões precedentes de festivais, que O Ornitólogo traça claros paralelos religiosos com a história de Santo Antônio de Lisboa. Ciente disso, fui assistir ao filme intimidado pelo meu desconhecimento de tal ícone, mas felizmente fui surpreendido por uma experiência que mantém o fator surpresa e afeta até o mais ateu dos espectadores.
As facetas técnicas de O Ornitólogo também são dignas de elogio, como a montagem acertada e a trilha sonora, inquietante no uso de cordas. Destaca-se a fotografia de Rui Poças, que registra paisagens diurnas de maneira vívida e acalorada, preservando também o mistério quase macabro de suas imagens noturnas.
Com participação curiosa do próprio diretor Rodrigues no elenco, O Ornitólogo é um filme tão desafiador quanto é sedutor. Pode-se até dizer, de maneira extremamente redutiva, que é um filme cristão gay. Mas a verdade é a de que O Ornitólogo é muito mais do que apenas isso (se é que pode ser rotulado), e merece a atenção dos cinéfilos por sua natureza densamente misteriosa e inquietante.
FICHA TÉCNICA
Direção: João Pedro Rodrigues
Roteiro: João Pedro Rodrigues
Elenco: Paul Hamy, Xelo Cagiao, Chan Suan, Han Wen, João Pedro Rodrigues
Produção: João Figueiras, Diogo Varela Silva
Fotografia: Rui Poças
Montagem: Raphael Lefèvre
Duração: 117 min
Distribuição: Vitrine Filmes
Gênero: Suspense / Drama
Um comentário em “Crítica: O Ornitólogo”
Comentários estão encerrado.