Crítica: A Oeste do Rio Jordão
Este filme faz parte da programação oficial da 41ªMostra Internacional de Cinema em São Paulo.
A Oeste do Rio Jordão, novo documentário do cineasta israelense Amos Gitai, é um filme de narrativas. Abordando de maneira objetiva o duradouro conflito entre Israel e Palestina, Gitai dá foco às entrevistas reveladoras que conduz com palestinos e israelenses de diferentes posicionamentos. Reveladoras pois estilhaçam a noção de dualidade que muitos de nós ainda temos em relação ao tema.
Abrindo com cenas tiradas diretamente de seu documentário Field Diary, no qual Gitai investigava a tensão entre Israel e Palestina em meados da década de 80, A Oeste do Rio Jordão faz muito bem o pulo para os tempos atuais, conferindo peso aos reflexos que a morte do líder israelense Yitzhak Rabin, nas mãos de um extremista judeu, ainda deixa sobre as duas sociedades. Mas Gitai não aposta no didatismo para contar a complexa história do conflito: mediando entrevistas de maneira bastante presente mas nunca intrusiva, o cineasta conversa de maneira franca com uma variedade marcante de personagens, afetados em diferentes graus pelos impasses políticos na região.
ONGs, jornalistas, ativistas e civis são todos registrados sob o olhar bastante maduro de Gitai. Entre os momentos cativantes: um grupo de mulheres israelenses e palestinas, unidas pela perda de entes queridos; outro grupo de mulheres, engajadas em gravar e divulgar as injustiças cometidas pelo exército israelense; o mais forte de todos, por fim, é o trecho em que um garoto palestino diz, sorridente, que deseja morrer como um mártir nas mãos de soldados, já que seria a melhor de suas opções. Como dito antes, Gitai está mais interessado nas pequenas narrativas, gerando uma genuína empatia pelo fator humano envolvido e frequentemente esquecido.
Quem procura entender o conflito como num livro de história, ficará decepcionado. Com uma duração concisa de 85 minutos, pouco de A Oeste do Rio Jordão é dedicado a explicar quem é quem, os porquês de cada lado ou outras complicações. A tendência para uma visão macroscópica do problema poderia gerar um sentimento de apatia, mesmo que fosse de fácil compreensão. Afinal, é assim que os piores líderes enxergam seu domínio, como um jogo de xadrez com peões descartáveis. E se as razões do conflito ficam pouco concretas, é porque nem mesmo os mais versados dos entrevistados as entendem por completo.
Mesmo que o espectador não aprecie o formato pouco decorado de diário de campo (com uma bela trilha que se repete à exaustão) ou não esteja totalmente ciente dos contornos que o conflito central tenha tomado, é inevitável ser tocado pelos relatos que Gitai extrai graciosamente de seu elenco em A Oeste do Rio Jordão. Alguns israelenses alegam de maneira passional seu direito histórico à terra que habitam. No entanto, como diz uma entrevistada, a história também trouxe palestinos à região. Nesses tempos de cacofonia ensurdecedora, devíamos todos nos questionar aonde a história ainda nos levará, e se vale a pena chegar lá, afinal.
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