Crítica: Onde Está Segunda?
Um bom conceito não é sinônimo de um bom roteiro. É o caso do novo filme original Netflix, Onde Está Segunda?, sci-fi distópico estrelado por Noomi Rapace e a grande Glenn Close. Dirigido por Tommy Wirkola (da franquia de zumbis Dead Snow e o embaraçoso João e Maria – Caçadores de Bruxas), o longa conta com algumas sequências de ação competentes e visuais chamativos, porém sua duração excessiva e um roteiro mal-concebido o tornam, no máximo, em um prazer culposo (ao menos para quem escreve).
Escrito pela dupla Max Botkin e Kerry Williamson, Onde Está Segunda é a história de sete irmãs gêmeas nascidas em meio a um regime que permite a criação de apenas um filho por casal/pessoa. No caso, as sete (todas interpretadas na idade adulta por Rapace) são criadas pelo avô, Terrence Settman (o soberbo Willem Dafoe). Confinadas em um apartamento, são nomeadas cada uma de acordo com os dias da semana, portanto as garotas devem se passar por filhas únicas, assumindo a mesma identidade de Karen Settman no mundo de fora. Para isso, Segunda sai de casa na segunda-feira, Terça na terça-feira e assim em diante. A cada noite, as irmãs se reúnem para um briefing do dia que se passou, para que não haja inconsistências cotidianas. A tranquilidade das sete, então, termina quando Segunda não volta para casa, dando início a uma série de situações tensas. Isso aqui é apenas a premissa inicial, acreditem.
Com um primeiro ato cativante, permeado pela presença de Dafoe, Onde Está Segunda deixa a promessa de um ótimo suspense de ação. A empolgação, porém, começa a se dissipar com os diálogos mecânicos das irmãs já adultas. Apesar do claro esforço de Rapace em atuar consigo mesma (vezes 7), a identidade de cada irmã é superficial demais para gerar a sensação de que estamos vendo uma família interagindo. Mesmo com seus adornos e composturas específicos, nenhuma das protagonistas se destaca de maneira expressiva, dificultando o envolvimento e a preocupação do espectador nas cenas de perigo. Irônico, pois de acordo com a estrutura de sete atos do longa, pensava-se que cada uma teria o espaço devido para marcar.
Devemos falar também da decepcionante vilã Nicolette Cayman. Interpretada pela imponente Glenn Close, a construção de Cayman vai de intrigante e palpável a simplesmente maniqueísta. O restante do elenco, com exceção de Dafoe, é composto de papéis ainda mais tolos. “Destaque” para Marwan Kenzari, que interpreta o amante comicamente ingênuo de uma das sete irmãs.
Nem mesmo a violência cartunesca que é assinatura do diretor Wirkola acrescenta algum charme ou humor. De fato, se os roteiristas de Onde Está Segunda não levassem o material tão a sério, talvez fosse mais simples ignorar a multidão de furos no enredo. Estagnado ainda mais por sua duração de 123 minutos, Onde Está Segunda é uma experiência frustrante. Perto de seu encerramento, um flashback nos lembra da presença de Willem Dafoe e a força de seu primeiro ato, acentuando ainda mais a decepção com o produto final.
Onde Está Segunda já está disponível na Netflix.
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