Crítica: Perdidos no Espaço (1ª Temporada)
Revival de série dos anos 60 traz cenas emocionantes com mistura de aventura e ficção científica
Diferente do que muitos estão pensando, a nova série original da Netflix não é uma refilmagem do famoso seriado criado por Irwin Allen, transmitido durante os anos 70 na Rede Globo. A nova série é mais uma re-adaptação que utiliza os conhecidos personagens que compõem a família Robinson e os coloca em novas e ousadas aventuras pelo espaço. Algo curioso e muito interessante sobre a nova série, é que ela possui a oportunidade de abranger um vasto público alvo, que vai desde os adultos (e idosos) que conheciam e se deliciavam com o antigo seriado, até os jovens de hoje, fanáticos pela cultura pop, por temas sci-fi e sedentos por aventura. O novo Perdidos no Espaço tinha tudo para dar certo desde o início de sua divulgação, e é com um grande sorriso que afirmo: deu certo.
A série, escrita pela dupla Mark Sazama e Burk Sharpless, conta a história da família Robinson. Ambientada 30 anos no futuro, ela gira em torno dos americanos que tentaram colonizar o espaço sideral, mas que tiveram a missão sabotada por uma agência secreta, deixando os Robinson soltos e perdidos no espaço. Agora eles precisam sobreviver a ameaças alienígenas de toda parte enquanto tentam manter um ambiente harmônico na família, ligeiramente disfuncional.
Primeiramente, vejo-me na obrigação de enfatizar o fantástico design de produção que, além de belo, é crível, e portanto consegue perfeitamente ambientar o espectador no futuro pretendido pelo roteiro. Inclusive, está aí um intrigante equilíbrio proposto pela obra: o “futuro nostálgico”. Parecem palavras antagônicas, não é? E não deixam de ser. A construção de cenários e a elaboração dos figurinos (diante de uma paleta de cor mista e de uma forte colorização da pós-produção) caracterizam o meio distópico da história, enquanto os clichês de roteiro (bem utilizados) e principalmente a trilha sonora nos remetem à magia dos filmes de fantasia e ficção científica dos anos 80, como E.T. – O Extraterrestre (1982) e De Volta Para o Futuro (1985), claras referências para a série.
Algo muito bacana que percebi durante a maioria dos episódios, é a estrutura de roteiro “fechada” por episódio. O que seria isso? Como cada episódio dura em torno de uma hora, os roteiristas possuem tempo para desenvolver seus episódios em começo, meio e fim bem definidos, se apoiando nos pilastres da jornada do herói e ainda abrindo espaço para um pequeno gancho para o próximo episódio. É fácil perceber como esse formato se apresenta, basta prestar atenção na maneira como os personagens adentram uma nova aventura a cada episódio, como tentam se safar, os problemas que encontram, e a maneira como conseguem escapar. Esse modelo de roteiro se torna agradável e cativante a cada cena, e torna quase impossível a chance do público se cansar com o que está vendo.
Por vezes, pode parecer que o enredo almeja arcos demais, não sabendo para onde ir ou como se concluir. De fato, muitos deles (a maioria) não se conclui, visto o gancho no episódio final para uma segunda temporada. Mas a verdade é que a numerosa quantidade de arcos (ou mini-arcos) de personagem apenas enriquece a experiência do espectador, deixando-o curioso para ver como as relações entre a família Robinson e os outros vai se resolver. Para mim, o arco mais empolgante é o gracioso relacionamento de Will (caçula da família) com o robô, que muitas vezes conseguiu me emocionar com facilidade. O importante destes arcos é que eles não sustentam a trama principal, somente complementam. Qualquer série que dependa exclusivamente de seus arcos pode se tornar cansativa e acabar virando novela.
As interpretações dos atores não parecem ser grande coisa, pois a força de seus personagens (e personalidades) estão presentes apenas para auxiliar no storytelling de cada episódio. Assim como os enquadramentos e movimentos de câmera, que embora tenham seus momentos de brilho, não se fazem ambiciosos e, na maioria das vezes, somente estabelecem padrões clássicos de narrativa, buscando compreensão e identificação do público com a história.
A montagem também atua no mesmo terreno, mas consegue impressionar nas cenas de ação pela forma como contribui para gerar adrenalina aos olhos do espectador, trabalhando com cortes rápidos e ritmados. Um belo trabalho que merece atenção. E por falar em belo trabalho, não ficam de fora a precisão dos efeitos especiais (feitos magistralmente) e essencialmente a trilha musical inspiradora de Christopher Lennertz, que surge na hora certa pra reforçar a emoção do espectador em determinadas cenas. Perdidos no Espaço é um presente indispensável para os nerds da nova geração e também para os fãs das músicas de John Williams e dos filmes de Steven Spielberg.