Crítica: Planeta dos Macacos – A Guerra

Crítica: Planeta dos Macacos – A Guerra

O filme que encerra a trilogia reboot de Planeta dos Macacos, assim como seu predecessor de 2014, possui muitos traços do clássico Batalha do Planeta dos Macacos (1973). Mas ao mesmo tempo em que a trilogia da extensa franquia se apoia no passado, a maneira de contar as histórias é absolutamente nova, diferente e inovadora. Por isso, ainda é surpreendente ver César (Andy Serkis) e sua fantástica história de vida – não só pela tecnologia impecável como também pela carga emocional presente nos três longas. Em Planeta dos Macacos – A Guerra, todos esses elementos estão presentes e a saga do grande líder dos macacos é posta em risco quando há uma grande guerra acontecendo.

Mas essa guerra não é bem a que pode vir à sua cabeça em um primeiro momento. Este subtítulo é, na verdade, uma cortina de fumaça, pois o que realmente vemos no filme de Matt Reeves é a guerra pessoal de César em meio a um cenário pós-apocalíptico que ajuda a construir esse universo da maneira mais realista (e assustadora) possível.

Em Planeta dos Macacos: A Guerra, César e todo seu grupo são forçados a viver escondidos em meio a um conflito mortal contra um exército de seres humanos. Eles são liderados por um Coronel (Woody Harrelson) que não tem piedade alguma, e César, ainda assombrado pela morte de Koba, luta contra seus instintos e começa sua própria busca para fazer justiça à sua espécie.

MAIS UM CAPÍTULO, MAIS UM SHOW CINEMATOGRÁFICO

Antes de falar mais sobre o enredo, acho muito importante frisar a qualidade da tecnologia de captura de movimentos, que parece estar ainda melhor agora! Andy Serkis entrega mais uma performance brilhante e digna de Oscar como César (agora com uma idade mais avançada). É de trazer brilho nos olhos observar a perfeição de seu rosto e também dos seus pelos, que já são bem grisalhos. O aspecto cansado também faz parte de seu semblante basicamente a todo o momento.

A fotografia de Michael Seresin, que também assinou seu trabalho no filme de 2014, continua escura e destaca ainda mais o lado sombrio do que os símios estão vivendo durante a dura batalha contra os humanos. A direção de Reeves é sóbria e marcante, mas confesso que não me importaria se o filme tivesse uma duração menor em seu corte final. Algumas cenas, por mais poderosas que sejam (como a do Coronel apontando a arma para César), poderiam ter mais impacto caso não se estendessem tanto. Claro que é válido imergirmos na história e no sofrimento dos macacos, mas o filme já possui cenas de sobra com o drama. Quando Planeta dos Macacos: A Guerra não se esforça em parecer mais intenso do que naturalmente já é, ele acerta em cheio. A tecnologia usada para dar vida a tudo que vemos em tela é extraordinária e prova que o futuro do cinema já chegou.

FAMÍLIA E TRAIÇÕES

César passa por diversas situações em A Guerra, e muitas delas fazem o líder perceber que ele não deve se desvirtuar de seu grupo. Porém, o espírito de vingança dentro de si está tão forte que ele não consegue conter. É muito interessante a ligação que fizeram com este aspecto interno e o que houve com Koba em O Confronto. Toda a luta interna também é uma verdadeira guerra, o que faz o título parecer bem mais complexo do que aparenta. E, realmente, ele é! O filme tem várias camadas e, na medida em que vamos conhecendo novos personagens (como a garota órfã), vemos as inúmeras reflexões que ele transparece até os créditos rolarem.

AÇÃO, GUERRA E COMPREENSÃO

O longa possui muitas cenas de ação de tirar o fôlego, e o melhor é que não existe apelo para satisfazer o público com bombas e destruições. Cada explosão é perfeitamente encaixada dentro do contexto, o que torna A Guerra um filme maior que qualquer blockbuster que vemos por aí. Só pelo fato dele ser reflexivo e impactante já é algo que o torna diferente; mas quando até a ação faz perfeito sentido, isso é algo digno de palmas. O que realmente chega a doer são as mortes dos símios, que são escravizados e sofrem por boa parte do tempo. Mais uma vez, é o realismo tomando conta. Clássicos de guerra como Platoon e Apocalypse Now permeiam a obra e essas referências dão ênfase ao desenvolvimento de personagens.

A empatia também é outro elemento que toma conta da narrativa. Somos apresentados a um César sedento por vingança, e também a um Coronel que quer fazer de tudo para matar a espécie do nosso protagonista. Além disso, também vemos macacos desertores que agora são chamados de “jumentos” pelos humanos, mas que não ligam para isso – eles apenas são contra César e ao que o mesmo fez com o Koba. Tudo isso dá o gás para o verdadeiro confronto, e todos os pontos acabam se ligando.

BAD APE 

Os alívios cômicos do filme podem ser resumidos a um único personagem: esse mesmo do subtítulo, Bad Ape. O chimpanzé de zoológico que César e seus amigos encontram é o resquício do que o mundo era antes do vírus se espalhar. Sua inocência e sua aflição ao ver tanto sofrimento, assim como sua vontade ajudar, tanto diverte como emociona.

A ESPERANÇA

Um final digno para uma excelente trilogia. É isso que os fãs querem ver em A Guerra e é isso que vão conferir. O desfecho pode até ser visto como apenas mediano, principalmente após vermos uma grandiosa cena de ação, mas o que mais marca no filme definitivamente é a redenção de César. Seu entendimento e empatia para com a outra espécie que tanto lhe foi imposta como o inimigo. Como o próprio diz: “Eu não comecei essa guerra”, e realmente não começou. Em sua jornada para salvar seu grupo e, por consequência, sua paz de espírito, César vê que a sobrevivência se dá por outros meios, não só pela guerra – e o longa faz questão de deixar isso bem claro com duras críticas sobre a arrogância e violência do homem.

Dirigido por Matt Reeves
Roteirizado por Mark Bomback, Matt Reeves
Elenco: Andy Serkis, Woody Harrelson, Karin Konoval, Steve Zahn, Amiah Miller, Judy Greer

Barbara Demerov