Crítica: Polícia Federal – A Lei é Para Todos
Um filme como Polícia Federal – A Lei é Para Todos se faz extremamente necessário para os dias atuais. Afinal, nada mais justo do que traçar uma linha do tempo de uma das maiores operações contra a corrupção do Brasil – se não a maior. A Lava Jato continua em movimento e traz, a cada dia, notícias surpreendentes que deixam a sociedade brasileira sem palavras para tamanha falta de senso do correto. Não temos ideia de quando isso vai acabar, ou se um dia isso vai acabar. Por isso, às vezes também cabe ao cinema levar ao público uma verdadeira aula de História.
Com a polícia como protagonista da trama, o filme de Marcelo Antunez pode não possuir o mesmo nível qualidade técnica como Real – O Plano por trás da História (2017), mas passa na frente deste em questão de narrativa e uma parcela de imparcialidade. Se Real foi considerado fortemente como um filme de “direita”, Polícia Federal apenas narra os fatos. Um por um, de responsável a responsável. Não que isso tire a imparcialidade da reta, mas esse tipo de abordagem torna a estrada mais clara.
É no mínimo curioso ver uma obra que narre episódios que ainda estão se desenvolvendo fora da tela – até mesmo enquanto escrevo esse texto. Porém, também é necessário enxergar que, por mais que o cinema enxergue fatos políticos e sociais como forma de suprir a indústria audiovisual financeiramente, é importante enxergar seu valor isoladamente como cinema, e não só como uma obra que sirva como um “tapa na cara” para alguns.
Sendo trabalhado como um thriller, Polícia Federal nos faz acompanhar a jornada da equipe do delegado Ivan (Antonio Calloni), formada por Julio César (Bruce Gomlevsky), Vinicius (João Baldasserini) e Bia (Flávia Alessandra). O que era para ser apenas uma investigação contra doleiros, acaba se tornando algo bem maior que isso.
Se fosse pensado como documentário, acredito que o projeto se sairia ainda melhor. Mesmo apresentando os policiais como protagonistas, o longa peca ao deixar claro quem é o “bonzinho” e quem é o “vilão”. Alguns elementos podem soar como partidários, mas a verdade é que, sendo um fato transformado em ficção, é muito mais complicado apenas narrar e não trabalhar cada personagem. Entendo a dificuldade, por isso realmente acredito que Polícia Federal poderia ter um resultado muito mais impactante como documentário.
O filme mescla em usar cenas reais com fictícias, e isso quebra um pouco do potencial da história. Mas, no geral, o tom de Polícia Federal é muito acertado. A montagem é ótima e dá ritmo a trama um ritmo nada forçado e que realmente explica, detalhe por detalhe, o que foi (e está sendo) essa grande operação. Há ainda um gancho para um próximo capítulo, que é bem próximo a realidade pois sabemos que tudo está bem longe de ter um fim.
Didático sem soar pedante, Polícia Federal é um filme que os brasileiros precisam assistir. Polêmico ou não, nas palavras de Antonio Calloni “o que importa é discutirmos de modo saudável”. Espero que o filme inspire todos a fazerem isso, porque o que a história torna clara é a necessidade que a sociedade tem de observar e questionar muito mais.