Crítica: Punhos de Sangue

Crítica: Punhos de Sangue

Você talvez nunca tenha ouvido falar do homem, mas de certa maneira, conhece Chuck. Não por ter sido a alegada inspiração do personagem Rocky Balboa, mas por sua cinebiografia ir de acordo com tantas fórmulas antes vistas no cinemão americano.

Produzido e protagonizado por Liev Schreiber, Punhos de Sangue conta a história de Chuck Wepner, um boxeador que tira a sorte grande ao ser elencado para uma lendária luta com o ícone Muhammad Ali. Obviamente, Wepner não saiu vitorioso, mas aguentou nada menos que 15 rounds com o rei, feito que o torna numa lenda local. Agora uma estrela de New Jersey, Wepner segue uma vida relativamente normal com sua esposa Phyliss (Elizabeth Moss), isto é, até descobrir que uma jovem celebridade chamada Sylvester Stallone o usou de inspiração para seu sucesso cinematográfico Rocky – Um Lutador.

É aqui que o longa encontra suas oportunidades mais promissoras, mas infelizmente, é aqui também que o filme dirigido pelo francês Phillipe Falardeau se perde nos lugares comuns, sem ao menos justificar ao que veio.

Com uma linguagem estética fortemente inspirada no cinema da década de 70, Falardeau também aposta nos estagnados voice-overs para explicitar a subjetividade de Wepner e também costurar momentos chave da trama. Só que falta surpresa e sobra obviedade. E, apesar da voz inconfundivelmente carismática de Schreiber, tal técnica se prova mais intrusiva do que benéfica para a pretendida veracidade da obra.

Intrusiva também é a trilha sonora, composta de músicas do período e composições originais por Corey Allen Jackson, que, em seu excesso, minam a atmosfera e dão ao filme um clima de faz-de-conta, apostando nos manjados greatest hits. Sente-se a princípio uma vontade de ser Scorsese, e o resultado acaba ficando só na intenção mesmo.

Por fim, novamente tocante à estética, a fotografia de Nicolas Bolduc (excepcional em O Homem Duplicado) parece orgulhosa de sua granulação extrema, mas em contraste com o material de arquivo usado, acaba se tornando menos agradável ao olhar do que o pretendido. Ainda assim, as características locações são acertadas, uma delas sendo curiosamente compartilhada com o excelente Paterson, também ambientado em New Jersey (lembrem-se do bar frequentado pelo poeta caso confiram este Punhos também).

A história de Chuck Wepner, o orgulho de Bayonne, talvez valesse uma contraparte cinematográfica. Punhos de Sangue, apesar de não comprometer, nunca excede as mais básicas expectativas. Assim como Wepner, o filme de Falardeau mantém-se no ringue até o fim, mas, diferente de seu protagonista, não arrisca nem um simples jab. Você até pode conhecer Chuck, mas sua cinebiografia dificilmente entrará para a história.

FICHA TÉCNICA
Direção: Phillipe Falardeau
Roteiro: Jeff Feuerzeig, Jerry Stahl, Michael Cristofer, Liev Schreiber
Elenco: Liev Schreiber, Elizabeth Moss, Naomi Watts, Jim Gaffigan, Ron Perlman
Fotografia: Nicolas Bolduc
Montagem: Richard Comeau
Trilha Sonora: Corey Allen Jackson
Duração: 101 min
Distribuição: Califórnia Filmes
Gênero: Drama / Biografia

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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