Crítica: Quase 18

Crítica: Quase 18

A adolescência, seus problemas, dilemas e decepções são temas já amplamente abordados no cinema, mas ocupam um espaço bem especial nos filmes do diretor John Hughes, como Gatinhas e Gatões, A Garota de Rosa Shocking e, claro, o clássico O Clube dos Cinco. O diretor é reconhecido como alguém que tinha uma visão única sobre este tema e é a principal referência para filmes do estilo até hoje. Por ser um assunto sensível e que exige uma visão que seja sincera (e, sobretudo, real), são poucos os filmes que realmente marcam o público jovem e o mais adulto com uma história que trabalhe com os problemas internos de um adolescente comum (uma exceção é o longa As Vantagens de Ser Invisível, que é extremamente bem executado)…

E era assim até eu dar de cara com Quase 18, filme de Kelly Fremon Craig que passa bem longe da superficialidade e de temáticas repetitivas sobre a juventude. Um filme como esse sem dúvidas será lembrado da mesma forma que a filmografia de Hughes não só por tratar de assuntos semelhantes, como também pelo modo que foi dirigido e, principalmente, pela ótima atuação da protagonista Nadine (Hailee Steinfeld, que foi indicada ao Globo de Ouro de 2017 por seu trabalho).

O roteiro de Quase 18 é bem simples, mas é utilizando desta mesma simplicidade que a diretora consegue atingir os melhores resultados. Nadine é uma jovem que, às vésperas de seus dezoito anos, se encontra perdida em meio à tanta superficialidade de seus colegas e sente-se deslocada em sua própria casa. Sua única amiga, Krista, cresceu junto com Nadine e é o porto seguro da protagonista – até que Krista começa a ter um caso com seu irmão mais velho, e o ciúme e mais insegurança vêm à tona.

Até aqui, a trama pode parecer um tanto quanto sem graça e cheia de clichês, mas é nos diálogos entre Nadine e seu professor (que também se torna um grande amigo, interpretado por Woody Harrelson) que as melhores reflexões se encontram. A sensação de desordem que a protagonista sente é amenizada com essas conversas após o horário de aulas, mas é interessante notar que o filme nunca demonstra que a própria Nadine é superficial ou uma simples garota mimada de classe média. Seus conflitos internos e problemas são extremamente reais e palpáveis (principalmente pelas questões familiares das quais passou), sendo fácil sentir empatia por ela. Seus pensamentos que vão desde “não tenho amigos”, “o garoto que eu gosto não me nota” e assim por diante são trabalhados de uma maneira delicada e surpreendentemente profunda. Por isso, a empatia acontece naturalmente.

Quase 18 é um filme que pode não ter sido forte o suficiente para emplacar no Oscar, mas já conseguiu um grande feito: a indicação de Hailee para o Globo de Ouro como Melhor Atriz em Drama. Tal reconhecimento não é nada por acaso, pois sua personagem não se limita apenas em quais são seus problemas, mas sim no peso de cada um deles e em suas possíveis consequências para a vida. Cabe a Nadine lidar com isso e caminhar para sua fase adulta, ou se estagnar neles e não procurar uma solução (que querendo ou não, está dentro de si e na vontade de se encontrar). Problemas? Todos têm, mas é o jeito de ver a vida que nos ajuda a movimentar e renovar tudo. É isso que Quase 18 transmite ao espectador: um feelgood movie que fará você se lembrar da época de colégio de uma forma leve e nostálgica – assim como nos filmes de John Hughes.

FICHA TÉCNICA
Direção:
Kelly Fremon Craig
Roteiro:
Kelly Fremon Craig
Elenco: Hailee Steinfeld, Haley Lu Richardson, Blake Jenner, Hayden Szeto
Título Original: The Edge of Seventeen
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 1h 48min
Classificação etária: 14 anos

Barbara Demerov