Crítica: Robin Williams – Come Inside My Mind
O lado iluminado da loucura
No próximo dia 11 de agosto, completa-se quatro anos da morte de Robin Williams. O ator ganhou destaque no cinema com Bom Dia, Vietnã (1987) de Barry Levinson e, a partir dali, emplacaria uma enorme lista de sucessos: de filmes aclamados pela crítica, como Sociedade dos Poetas Mortos (1989), Tempo de Despertar (1990) e O Pescador de Ilusões (1991), aos “arrasa-quarteirões” como Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991), Uma Babá Quase Perfeita (1993) e Jumanji (1995).
Em uma nota pessoal, este redator que vos escreve tem uma rejeição grande com a palavra “gênio” – que indica aptidão, dom ou extraordinária capacidade -, devido seu uso repetitivo e cada vez mais barateado; mas principalmente, porquê acredito que o melhor uso desta palavra, está atrelado ao ser que vive dentro da lâmpada mágica em Aladdin (1992), animação da Disney que teve Robin Williams fazendo a voz do Gênio – melhor dizendo, as dezenas de vozes do Gênio.
Curioso que essa mesma palavra, tão utilizada para definir o brilhantismo do ator, está em Gênio Indomável (1997), filme que lhe rendeu o único Oscar de sua carreira.
Ainda assim, se persistirmos em listar outras tantas conquistas em sua filmografia, corre-se o risco de fazer injustiça para com Williams. Talvez, a maneira mais honesta – e também a que o ator preferia – de lembrá-lo seja dizer que Robin Williams sabia fazer rir, muito… Ao ponto de perdermos o controle.
No documentário de Marina Zenovich Robin Williams – Come Inside My Mind, produzido pela HBO, acompanhamos a trajetória de vida e da carreira artística de um dos maiores comediantes da história do cinema. Na forma de narrativa “cradle to the grave” – traduzido, do berço ao túmulo – somos convidados a bordo de um navio que navega em direção ao redemoinho que é a mente deste astro.
Redemoinho que nos é apresentado logo no primeiro minuto. Em um programa de entrevistas chamado Inside The Actors Studio, o ator é questionado pelo apresentador James Lipton, curioso de saber o que acontece dentro da mente de Williams, se este está pensando tão mais rápido que todos nós. Williams não “responde” objetivamente, ao invés, manifesta-se através de um descarrilamento verborrágico fugaz, paradoxalmente balançeado, pelo talento do ator no domínio das mecânicas da fala, e suas dinâmicas – além de uma esperteza e timing cômico incontestáveis. Como se a mente de Robin Williams não tivesse quaisquer barreiras, ou limitações, em suas capacidades.
Irônico – e por vezes, entristecedor – é reconhecer que onde há luz, há sombra, e vice-versa. Assim, ao mesmo tempo em que testemunhamos e compartilhamos a centelha da paixão e criatividade, nos é apresentado o lado dos vícios de Williams: cocaína e álcool, além de uma insegurança que o guiava por estradas mais obscuras.
Porém, o que fica de Robin Williams é o pensamento que o famoso apresentador de talk show David Letterman disse sobre o ator: “Na minha cabeça, a primeira coisa que pensei dele é que ele poderia voar”. De fato, ele podia. E o mais revigorante disso tudo é lembrar da fala de Sininho, interpretada por Julia Roberts em Hook – A Volta do Capitão Gancho. Ela dizia que, para voar, tudo o que se deve fazer é se concentrar em pensamentos felizes. Bom, se isso é o necessário para podermos voar, então, Robin… Você facilitou demais as coisas, para todos nós.