Crítica: Slender Man – Pesadelo Sem Rosto

Crítica: Slender Man – Pesadelo Sem Rosto

Terror que teve produção polêmica parece propositadamente insosso

Imagem do filme 'Slender Man - Pesadelo Sem Rosto'

É possível que boa parte dos espectadores de Slender Man – Pesadelo Sem Rosto não conheça a origem do personagem-título do filme, um monstro nascido como lenda urbana na internet em 2009 e desde então utilizado em contos de terror, games e imagens que circulam na rede. Para quem nunca ouviu falar desta criatura, o longa perde uma ótima oportunidade de apresentar um vilão com potencial.

Ao contrário de personagens como Samara (a menina de O Chamado), Jason (Sexta-Feira 13), Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo), Pennywise (It – A Coisa) e tantos outros que poderiam ser citados neste texto, o Slender Man das telas de cinema é uma ameaça que nunca fica muito bem explicada. Não se sabe suas intenções, seu “modus operandi” e muito menos sua mitologia. Assim, fica mais difícil de assustar.

Este vazio pode até ser proposital. É provável que o roteirista David Birke (cujo trabalho mais conhecido é o suspense psicológico Elle, que rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Isabelle Huppert) tenha mirado na crítica à prática de dar-se atenção demasiada a boatos ocos que surgem online e ocupam a mente de quem os segue. Mas esta é uma entrelinha tão minúscula diante do mar de clichês do filme dirigido por Sylvain White que é preciso muito boa vontade para enxergá-la.

Na história, as amigas Wren (Joey King, de A Barraca do Beijo), Hallie (Julia Goldani Telles, filha de mãe brasileira), Chloe (Jaz Sinclair) e Katie (Annalise Basso) são instigadas a assistir a um vídeo supostamente amaldiçoado, repleto de imagens bizarras. Pouco depois desta experiência, uma delas desaparece e as outras são afligidas por diversos distúrbios, enquanto se sentem perseguidas por uma entidade demoníaca.

Slender Man – Pesadelo Sem Rosto se parece tanto com uma fórmula genérica de adolescentes de uma cidade pequena perseguidos por uma força maligna que será preciso esforço para lembrar dele daqui seis meses. Mas isso tem motivo. O projeto foi cercado por problemas. O principal deles é o caso real, acontecido em 2014 em Wisconsin e contado em um documentário da HBO, em que duas garotas de doze anos esfaquearam uma colega de escola da mesma idade, alegando querer ofertar seu corpo ao Slender Man.

A vítima sobreviveu, mas seus pais não gostaram nada de ver algo que quase acabou em tragédia real ser transformado em entretenimento puro para o público. Os protestos ganharam adeptos nos EUA e causaram uma saia justa para os estúdios Sony e Screen Gems, que decidiram lançar o filme quase sem nenhuma publicidade e sem sessões para a imprensa norte-americana, depois de algumas mudanças feitas na ilha de edição. Se a intenção era fazer uma obra que passasse despercebida até por quem a assiste, o objetivo foi cumprido com louvor.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil