Crítica: Star Wars – A Ascensão Skywalker
Um pé no passado, outro na incerteza
O ano de 2019 trouxe os desfechos de três sagas marcantes da cultura pop/geek mundial: o fim do ciclo Vingadores com Ultimato, a temporada derradeira de Game of Thrones e, agora, a conclusão da saga iniciada por George Lucas em 1977, com Star Wars – A Ascensão Skywalker. Por mais que não se tratem de despedidas absolutas, já que as franquias se manterão com outros filmes e séries derivadas para seguir girando os milhões de dólares na caixa registradora, é um momento emblemático no qual comparações se tornam inevitáveis.
Game of Thrones dividiu opiniões ao apresentar em seu capítulo final uma solução mais racional e menos emotiva. Uma petição virtual de espectadores para que a HBO produza outro encerramento teve milhões de assinaturas e, embora tenha sido ignorada pelo canal, deve ter colocado qualquer responsável por produções desse porte com as barbas de molho. Lançado pouco antes, Vingadores – Ultimato jogou para a torcida, mas ainda assim encontrou espaço para algumas surpresas (a Viúva Negra que o diga). Resultado: recorde de bilheteria em todos os tempos.
Star Wars – A Ascensão Skywalker tenta seguir o mesmo caminho do épico da Marvel, mas falta um pouco mais de coragem para se soltar das amarras da nostalgia e criar algo realmente novo. Se o episódio anterior havia gerado as mais diversas reações entre a legião de fãs, esse é um produto que parece ter sido feito num comitê, em que cada ideia foi acomodada em seu mínimo denominador comum. Assim, as ameaças sugeridas pela trama que poderiam resultar em situações capazes de colocar os personagens diante de decisões difíceis são contornadas pelo caminho mais fácil.
Como já havia feito em O Despertar da Força, o diretor J. J. Abrams se mostra um exímio conhecedor da cartilha da saga, mas pouco capaz de surpreender a partir dela. Se a obra que iniciou a nova trilogia era uma releitura pouco disfarçada de Uma Nova Esperança, o filme original de 42 anos atrás, agora o cineasta bebe direto de O Retorno de Jedi, seguindo a fórmula de (muita) redenção e (pouco) sacrifício.
Partindo de onde Os Últimos Jedi parou, A Ascensão Skywalker começa com Kylo Ren (Adam Driver) cada vez mais obcecado em seguir os passos do avô, Darth Vader. Ele encontra um mentor ainda mais terrível com a volta de Palpatine, cuja mente é mantida por aparelhos, numa cartada do roteiro que escancara sua dependência em olhar para o passado. Enquanto isso, Rey (Daisy Ridley, que tem a melhor atuação do longa) segue treinando para o combate inevitável com o lado negro da Força, ainda incerta sobre suas origens.
Essas duas trajetórias são responsáveis por mover o filme, o que faz de personagens como Finn (John Boyega) e Poe (Oscar Isaac) pouco mais do que coadjuvantes – embora o segundo tenha um breve instante de destaque, quando a trupe visita um planeta por onde o sagaz piloto teve uma história. A espevitada Rosie (Kelly Marie Tran), de papel importante no episódio anterior, mal é vista em cena, algo que pode ter a ver com os haters que criticaram de forma grosseira a participação da atriz, fazendo com que ela apagasse todas as fotos de sua conta no Instagram. Abrams, que já tem um final polêmica nas costas, como criador e produtor da série Lost, definitivamente não quis comprar a briga.
O diretor trata de entregar uma profusão de sequências de perseguições espaciais, explosões e duelos, em ritmo acelerado. Como é de praxe na franquia, os efeitos especiais caprichados, alguns diálogos bem-humorados e as criaturas fofinhas e carismáticas que surgem na tela, como o ser minúsculo que tem uma interação fundamental com C-3PO, garantem uma sessão divertida.
Porém, conforme vai amarrando suas pontas soltas, a trilogia desta década chega ao fim deixando uma importante questão ainda solta: é possível que Rey, Finn e Poe carreguem a franquia daqui para a frente, sem depender dos icônicos Leia, Luke e Han Solo? A Ascensão Skywalker não parece confiar completamente nisso.