Crítica: The Rain (1ª Temporada)

Crítica: The Rain (1ª Temporada)

Mesmo com falta de originalidade em seu enredo, primeira série dinamarquesa Original Netflix impressiona e diverte

Como fazer com que o espectador se interesse e se impressione com mais uma história sobre um vírus mortal que se espalha (a qual já estamos cansados de ver) e um grupo de pessoas que tenta sobreviver a todo custo? Há alguns dias eu acharia impossível, mas a abordagem dinamarquesa (que aqui muitas vezes foge dos moldes tradicionais americanos) de The Rain consegue dar um toque de originalidade de maneira peculiar. Não por conta do roteiro (que, por sinal, é bem previsível), mas por meio de seus ingredientes cinematográficos tão apetitosos. Não entende do que eu estou falando? Então continue essa leitura que você com certeza vai compreender.

Nem sempre a originalidade de uma obra parte de seu roteiro, sua história ou seu enredo. Na série, seis anos após um misterioso e brutal vírus transmitido pela chuva ter massacrado quase que toda a população da Escandinávia, dois irmãos dinamarqueses decidem sair da segurança de seu búnquer para verificar o que se passa do lado de fora de sua fortaleza. Em meio aos escombros, eles encontram um grupo de jovens sobreviventes e juntos irão até o fim para encontrar a única esperança de uma vida melhor.

A história em geral não é nova, mas o que cativa e salva o roteiro são os personagens. A começar pela personagem principal Simone e seu irmão Rasmus, que movem a história e possuem bons momentos juntos. Os personagens que posteriormente se juntam a ambos também se tornam igualmente interessantes. Cada um possui características diferente dos demais, apimentadas com uma pequena trajetória mostrada aos poucos através de flashbacks. Embora algumas interpretações se mostrem abaixo do esperado de cada personagem, acontece o contrário com a personagem Simone e sua respectiva atriz Alba August. A atriz se mostra esforçada, mas sua personagem, ainda que seja a principal e mova a história, não possui destaques individuais de personalidade, sendo apenas moldada pelas necessidades de seu irmão.

O triste do enredo é a previsibilidade com que os eventos se apresentam. Momentos em que presumimos facilmente o que vai acontecer e de que forma, embora haja uma cena ou outra de fato surpreendente. A maneira como os personagens resolvem o que fazer diante de situações aleatórias de perigo ou ameaça é um tanto quanto genérica, mas a direção acerta a mão e garante que nos envolvamos com as cenas. Apesar dos problemas com a narrativa e atuações, é aprazível ver como a união dos personagens e a relação entre eles fortalece a trama de forma inimaginável. O gênero primário da série é provavelmente ficção-científica, mas a presença do drama e de alguns alívios cômicos/amorosos incrementa a carga emocional dos personagens e, consequentemente, o envolvimento do espectador.

Apreciemos a abordagem técnica de The Rain. Primeiramente, é preciso reconhecer que a fotografia e a direção de arte criam juntas uma tonalidade de imagem acinzentada que se junta à cores frias e escuras, dando o ar perfeito para o ambiente distópico nos apresentado. Além disso, a iluminação pontual no rosto dos atores e os movimentos de câmera casam com a adrenalina (ou calmaria) proposto por cada cena, o que faz da caracterização daquele ambiente o mais crível possível, mesmo sendo uma história de ficção surreal. Mas a imersão do público não seria a mesma sem os cortes certeiros da montagem e a emoção transmitida por uma soundtrack mesclada, com repertório do próprio país e influências da música pop indie estadunidense/europeia.

Por que não dar uma chance para essa nova série e se deixar envolver em uma trama adolescente durante 8 episódios de 40 minutos (em média)? Acredite, você pode se surpreender. Sempre apreciei conhecer obras e técnicas de produção de países estrangeiros, principalmente séries de televisão. Foi assim com DARK, série alemã também Original Netflix, a qual inclusive possui um clima melancólico muito semelhante com The Rain, algo que percebemos já nos primeiros episódios.

 

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.