Crítica: Toy Story 4
Além da nostalgia, mas sem a mesma união
A Disney e a Pixar trazem, com altíssimas expectativas do público, um Toy Story 4 que busca continuar as aventuras do grupo de brinquedos mais amado do mundo, mesmo que agora sem Andy, que já não é mais o dono da turma desde o último filme.
A história dá início com Woody, seus amigos, e os já apresentados velhos brinquedos de Bonnie. Logo depois da partida de Andy para a faculdade, o grupo de amigos embarca em uma aventura de férias, com o trailer da família da garota, e dessa vez com um novo amigo feito por ela durante seu primeiro dia de aula na escola nova: Forky, um garfinho personalizado que se recusa a ser um brinquedo e que prefere viver no lixo.
Forky foge durante a viagem, o que faz com que Woody vá atrás para recuperar o mais recente e favorito brinquedo de Bonnie. Nisso, o caubói reencontra sua querida amiga Beth, que não aparecia desde Toy Story 2 (1999), e que agora vive em um parque de diversões, próximo a um antiquário perigoso repleto de brinquedos antigos, que raptam Forky e forçam Woody e seus amigos a dar início à uma aventura em busca do garfinho.
Por um lado, é compensador saber que o filme não se apoia única e exclusivamente na nostalgia gerada pelos brinquedos que já possuem uma legião de fãs, e traz consigo bons momentos comoventes e características individuais dos personagens que tanto amamos, seja pra fazer humor, criar tensão, ou mesmo acrescentar drama.
Porém, é triste notar a falta de carinho do roteiro com a união de personagens como Rex, Slinky, Porquinho, Sr. e Sra. Cabeça de Batata, entre outros, que antigamente juntavam forças para sair de enrascadas e ajudar seus amigos. Aqui, essa união é quase completamente abdicada em prol de um foco maior em Woody, Buzz, Beth, Forky e até os novos personagens do parque de diversões e do antiquário.
Outro ponto negativo da história é que o roteiro se emaranha em um final arriscado, de fortes emoções e decisões discutíveis, em que nos deparamos com uma importante “despedida”. O problema é que o enredo não nos dá tempo suficiente para absorver todo esse momento, e não se dedica em apresentar todos os personagens de forma devida a esse adeus, diferente do que o final de Toy Story 3 (2010) fez brilhantemente.
Fugindo de demais spoilers, a história ainda assim garante uma ótima experiência ao público. Em uma abordagem mais intimista de alguns personagens, que aqui demonstram seus mais profundos desejos, vontades e receios, podemos navegar em reflexões interessantes que permeiam a noção de pertencimento, a importância de fazer o bem ao próximo, e o sentimento de liberdade.
Toy Story 4 é o filme da franquia que mais se afasta da proposta de “estar todos juntos”, mas ao mesmo tempo, é o que mais nos ensina sobre nós mesmos. Aqui os brinquedos parecem sentir, agir e pensar cada vez mais como nós, humanos. E além disso, parecem nos ensinar a valorizar o respeito mútuo, e a amar o outro como ele é.
Enquanto nos maravilhamos com o design de animação, que obviamente está mais realista, com níveis de detalhe e textura impressionantes, a trilha composta e conduzida pelo mestre Randy Newman é capaz de nos emocionar mesmo sem fazer esforços, garantindo que sejamos imersos naquele universo criado com tanto esmero há quase 25 anos atrás.
Tecnicamente sublime e narrativamente envolvente, é evidente que os fãs devem ao menos satisfazer a vontade de rever tais personagens em uma aventura frenética e com ótimos alívios cômicos, que aqui se fazem mais presentes do que nos primeiros filmes.
Assistir Toy Story 4 é garantir que presenciemos uma experiência comovente, com personagens queridos e uma história compensadora. É se permitir ser levado por um mundo fantástico, composto por uma animação e um roteiro cheios de ternura e sensibilidade. Definitivamente não é uma filme isento de problemas, mas é com certeza uma obra para se guardar no cantinho mais nobre do coração.