Crítica: Um Espião e Meio
Para salvar o mundo, você precisa de um pequeno Hart e um grande Johnson… Okay, essa frase soava bem melhor em inglês, mas coincidentemente o filme Um Espião e Meio (versão para o insosso título original Central Intelligence) é salvo do esquecimento total por suas duas estrelas, Kevin Hart e Dwayne “The Rock” Johnson.
No simplório enredo, aprendemos que Robbie Wheirdich (Johnson), um garoto acima do peso e deslocado, após passar por uma humilhação em público, foi acudido com um simples gesto de bondade justamente pelo rapaz mais popular da escola, Calvin Joyner (Hart). A partir daí passam 20 anos e Joyner, que era visto como o aluno mais promissor de sua turma, tornou-se um contador que passa o dia sentado à frente de um computador.
Certo dia recebe uma solicitação de amizade de um desconhecido, que, ao convidá-lo para uma bebedeira, é revelado como Robbie, o garoto que Calvin havia apoiado naquele tão distante incidente. Só que Robbie é agora um brucutu, que por acaso também é um super-agente treinado pela CIA. Calvin então se vê em meio a um jogo de intrigas quando começa a ser perseguido por outros agentes, que afirmam que Robbie é na verdade um traidor e… blá blá… blá blá blá.
Em outras palavras, a trama de espionagem presente em Um Espião e Meio é extremamente genérica e imediatamente esquecível. Para um filme que se vende pelo carisma de seus dois astros, o tempo de tela dedicado a essa trama chega a ser excessivo, principalmente durante sua segunda metade.
O roteiro de Ike Barinholtz (o corrupto guarda Griggs visto no péssimo Esquadrão Suicida) parece não saber injetar a mesma dose de personalidade nas diferentes cenas, uma hora fazendo menções e homenagens muito bem-vindas a clássicos cult dos anos 80 como Gatinhas e Gatões e Matador de Aluguel, outra hora se equiparando a um episódio meia-boca de alguma sitcom qualquer.
A direção de Rawson Marshall Thurber (que estreou nos cinemas com o engraçadíssimo e pouco lembrado Com a Bola Toda) é assustadoramente mecânica, com cenas de ação fraquíssimas e uma pobreza visual e criativa, como se houvesse apenas um contrato anual a ser cumprido com os estúdios.
No entanto, como já disse antes, Kevin Hart e Dwayne Johnson surpreendem como um divertido odd-couple cinematográfico, principalmente pelo fato de estarem interpretando fora de seus arquétipos usuais. Outro bom elemento do filme é a abordagem tomada em relação à temática do bullying. Para uma comédia de grande estúdio, há em certos momentos uma maturidade refrescante, enquanto outros filmes se aproveitariam destas ocasiões para arrancar ainda mais risadas forçadas.
Com uma quantidade gigantesca de pontas famosas (pelo menos pra quem acompanha o cinemão americano), Um Espião e Meio não sabe ao que veio. Em certas cenas lembra uma versão espiã de O Pentelho, e em outras mostra o que seria o suspense O Presente caso este fosse uma comédia. Resumindo, este filme nunca encontra uma identidade própria ou alguma razão para existir, o que é uma pena considerando o potencial promissor de Hart e Johnson enquanto dupla.