Crítica: Velozes e Furiosos – Hobbs & Shaw
Família e Possantes: Onde Estão?
A franquia Velozes e Furiosos sempre teve como base duas importantes temáticas: a da união dos personagens como uma família, e a quase onipresença de veículos turbinados em corridas contra o tempo. Aqui, pouco de ambos os elementos são resgatados, e a franquia dá lugar para um assumidamente exagerado humor que acaba, coincidentemente ou não, funcionando diante do cenário que se apresenta.
Diante não de uma sequência direta do oitavo filme da franquia e sim de uma espécie de spin off de dois personagens que se odeiam (ou fingem se odiar), o público pode estranhar algumas decisões que fogem das propostas iniciais da franquia, mas certamente é recompensado de outra forma.
Na história, a dupla Deckard Shaw (Jason Statham) e Luke Hobbs (Dwayne Johnson) precisa se unir mais uma vez para uma missão perigosa, mas dessa vez estão sozinhos (sem sua numerosa equipe) diante de Brixton (Idris Elba), um homem geneticamente modificado que busca por um vírus mortal que colocaria fim à vida de milhões de pessoas em prol da evolução da humanidade em forma de máquinas. Para isso, a dupla conta com a ajuda da irmã de Shaw, Hattie (Vanessa Kirby), que é também agente do MI6 e que está sendo perseguida por Brixton.
Ambientado num viés futurista de homens máquinas que são frequentemente melhorados por um laboratório secreto, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw resgata a adrenalina de perseguições da franquia e cativa com cenas de ação de tirar o fôlego. E de brinde, ainda contamos com uma dinâmica de personagens envolvente. Os personagens interpretados por Johnson e Stathan protagonizam cenas cômicas enquanto trocam farpas de forma frequente e demorada, que embora em alguns momentos se alongue mais do que deveria, consegue divertir o expectador sem grandes pretensões. Kirby também acrescenta a pitada de sarcasmo necessária à essa mistura.
Se aqui uma das novidades que se torna mais interessante meio à franquia é a qualidade das cenas de luta muito bem coreografadas e executadas (visto que o diretor David Leitch entende do assunto), algo que perde extrema força é a falta da união dos varios personagens que compõem a série de filmes. Não é difícil se acostumar apenas com Hobbs e Luke como personagens principais e mocinhos da história, mas chega a ser um pouco mesquinha a forma como o roteiro resolve a falta do que era uma metáfora sútil e tocante de “família”, buscando parentescos reais dos personagens para justificar essa ausência. Algo que acontece desde o começo com Shaw e sua mãe na prisão e Hobbs e sua filha, com Shaw e sua irmã Kirby durante todo o segundo ato do filme, até um terceiro ato que traz incontáveis irmãos e a família samoana de Hobbs. Os possantes, que também carregavam uma importância gigantesca na franquia, aqui ainda se fazem presentes (embora bem menos), mas com propósitos simples demais.
De toda forma, o filme explora inovações em sua fórmula que, por não se levar a sério em vários momentos, parece entreter sem esforços um público que já deve ter abdicado de suas exigências lógicas desde os primeiros filmes da franquia. Com uma direção que valoriza bem o jogo de corpo dos personagens sem causar confusão com cortes rápidos que ocultam informações essenciais (algo muito visto nos filmes de ação), Leitch demonstra um domínio invejável da intercalação de planos próximos, closes e planos abertos.
Com alívios cômicos extremamente constantes, que incluem aparições de Ryan Reynolds e Kevin Hart, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw se encaixa no filão da comédia de ação. E dentro do que se propõe tanto nas risadas quanto nas cenas de tensão, a obra consegue se sair de maneira satisfatória, sem tanta originalidade mas também sem maiores ambições além de divertir seu público.