A história de como eu abri a minha mente quadrada sobre produções japonesas
Não é só anime ou mangás. Muito menos apenas filmes de terror altamente assustadores que me deixam semanas sem dormir. O Japão é isso, mas não é SÓ isso. Mas, aos 18, eu achava que era.
Stephen King sempre foi um dos meus autores preferidos e, durante 2010 e 2012, os livros dele eram as únicas coisas que eu conseguia – e queria – ler. Por mais que a maioria das histórias do King seja de terror (eu morro de medo), o que mais me chama a atenção é a maneira como ele escreve: eu fico completamente presa e não consigo desviar a minha atenção até saber o que acontece no final. E é normal eu terminar o livro com aquela expressão de “eu não consigo acreditar no que eu acabei de ler”. Depois das obras, eu comecei a assistir todos os filmes e séries que possuem relação com Stephen King. Acredito que todo mundo conheça produções como: O Iluminado; Carrie, a Estranha; It – A Coisa (que terá em breve um remake) e Conta Comigo. Além disso, ele escreveu um episódio da série que, até hoje, eu sou fissurada: Arquivo X. O meu livro preferido dele é Insônia.
Depois da minha fase Stephen King, eu entrei no mundo do Neil Gaiman por causa de Coraline e o Mundo Secreto, um filme em stop-motion baseado no livro de mesmo nome. O livro conta a história de Coraline, uma menina que está entediada em sua nova casa e descobre uma porta secreta que a leva para uma versão alternativa de sua própria vida. No começo, tudo parece muito melhor, até que essa vida nova passa a ser perigosa. Ao contrário do que acontece com algumas adaptações, Coraline e o Mundo Secreto é um filme incrível e que não deixa a desejar, transmitindo muito bem a essência do livro. Quando eu leio livros maravilhosos assim, como os de Neil Gaiman e Stephen King, eu sempre tento imaginar como seria um filme sobre aquela história: os personagens e como os fatos poderiam ser contados. Mas algumas obras não nasceram, exatamente, para se tornarem filmes.
Para mim, esse é o caso dos livros do Haruki Murakami, que eu conheci em 2013 quando li os três volumes de 1Q84. Até então, eu não tinha me encantado muito pelas obras dele: os nomes dos personagens eram difíceis de falar e eu tinha que me esforçar um pouco para criar os cenários na minha cabeça. Exatamente por isso, eu abandonei os livros do Murakami e só voltei a me interessar por algo escrito por ele quando assisti Norwegian Wood. E era nesse ponto que eu queria chegar!
Com 18 aninhos, eu acreditava que os filmes japoneses se resumiam apenas a animações e terror. Na verdade, eu não escutava falar muito sobre produções japonesas que não se encaixassem nesses padrões, mas Norwegian Wood abriu a minha mente “quadrada” daquela época. O filme, lançado em 2010 nos Estados Unidos e em 2013 no Brasil, é baseado no livro do Haruki Murakami de 1987. A adaptação se chama Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood e conta a história de um rapaz chamado Toru Watanabe, que se relaciona com a namorada de seu melhor amigo recém-falecido. Eu sei que pode parecer estranho, mas o romance/drama é muito profundo e fala sobre assuntos importantes e que devem ser comentados, como suicídio. Aliás, a morte é um tema que o Murakami aborda como ninguém. Em O Incolor ele também fala sobre isso.
Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood tem roteiro e direção de Tran Anh Hung e eu achei interessante a ideia de colocarem atores orientais para protagonizar o longa. Isso porque se tornou normal algumas histórias originalmente orientais se transformarem em produções ocidentais, como Ghost In The Shell, que será protagonizado por Scarlett Johansson. Nada contra a Scarlett, mas tudo contra o embranquecimento de uma personagem asiática.
Problematizações à parte, Norwegian Wood ganhou o prêmio ‘Asian Film Award’ de Melhor Fotografia. As imagens são, realmente, lindas e a história é ótima. Vale a pena gastar 2h13 minutos assistindo ao filme? Com certeza, mas é bom ter em mente que ele não passa nem metade da sensação que o livro provoca. É por isso que eu disse anteriormente que os livros do Haruki Murakami não nasceram para serem filmes. É óbvio que eles podem ser adaptados (e muito bem adaptados), mas ele escreve de um jeito tão intenso que parece difícil transmitir exatamente aqueles sentimentos de outra maneira que não seja através de palavras impressas em um monte de folhas. Tirando Norwegian Wood, ele escreveu grandes histórias, como: Sono, Após o Anoitecer e Dance, Dance, Dance. Os outros livros eu sei que devem ser maravilhosos, mas não li por enquanto.
Para pessoas que ainda não exploraram muito os autores e filmes japoneses, eu juro que vai ser legal começar pelos livros do Haruki Murakami e Norwegian Wood também vai ser uma experiência muito boa. Aproveitando: eu queria agradecer a uma grande amiga que me lembrou desse autor e me fez tirar da gaveta algumas obras dele que eu já tinha até esquecido.
(Outro autor japonês que eu adoro é o Yukio Mishima, que eu fui atrás recentemente. Li poucas coisas dele, então indico apenas Mar de Fertilidade e Confissões de uma Máscara).
E para entrar no clima de Norwegian Wood, aproveite:
https://www.youtube.com/watch?v=92nj_dOQYOc&list=RD92nj_dOQYOc#t=21