Orphan Black: A ciência é feminina
Por Mayara Zago
No dia 5 de julho de 1996 aconteceu a primeira clonagem com mamíferos: Dolly, a ovelha mais famosa do mundo. Em 30 de março de 2013 foi lançado o primeiro episódio de Orphan Black, a série sobre clones que terminou no último domingo (13), em sua 5ª temporada.
Criada por Graeme Manson e John Fawcett, o seriado teve os direitos de exibição no Brasil comprados pela Netflix, mas na verdade pertence ao canal BBC America. É uma série científica e trata da evolução em sua premissa original, em vista que se exploram assuntos ligados ao corpo humano e suas modificações genéticas (especificamente a produção de clones).
Logo no primeiro contato, a história parece simples. Uma mulher chamada Sarah Manning (Tatiana Maslany) tem sua vida jogada para dentro de um enorme drama que a perseguia desde que nasceu: ela faz parte de uma linhagem de clones. Após o conhecimento sobre suas semelhantes, Sarah descobre a presença de uma doença no seu código genético e de se suas irmãs. Com isso, todas estão fadadas a morrer e a partir daí tudo se desenrola.
Não dá para falar de Orphan Black sem falar dos inúmeros prêmios a mais que a atriz Tatiana Maslany (a qual interpreta mais de sete personagens) precisava ganhar com essa série. Comentários sobre sua atuação já aparecem desde a 1º temporada, mas é só agora, em sua última, que é possível perceber a dimensão do trabalho de Tatiana. Com inúmeros personagens de personalidades totalmente diferentes e até mesmo uma imitando a outra, o telespectador consegue perceber quem é quem.
Outro ponto que não pode deixar de ser citado é o desenvolvimento de Siobhan Sadler (Maria Doyle Kennedy), a personagem que salvou a última temporada. O verbo salvar pode ser interpretado de diversas formas tratando-se dela e de seu papel no seriado, em vista que a atuação da atriz se mostra incrível, assim como a forma que sua vida foi explorada O fato dela conseguir se entrelaçar com a vida das clones fazem de sua jornada inesperada.
A música e a fotografia ficam em segundo plano por conta da própria trama, que é envolvente até o último segundo e, apesar de tratar de um tema bastante complexo, consegue passar tudo de forma simples. É importante ressaltar a maneira como os fatos foram mostrados, um tanto apressados, onde tudo aconteceu em poucos episódios para que fosse possível concluir a história e mostrar o depois. Não que a série não tenha tido um final bom, mas os detalhes deixam a desejar.
Helena, a personagem russa que sempre teve uma relação complicada com a religião, não apareceu tanto quanto deveria no desfecho. Por se tratar de um final de série, todas as personagens necessitariam de uma valorização igual e, apesar de cada episódio tentar mostrar um fragmento da infância de cada uma, Helena foi a mais prejudicada. Isso aconteceu porque, ao mesmo tempo em que tivemos o contato com pequenos momentos de sua vida, uma personalidade tão forte e intrigante deveria ter tido um pouco mais de espaço em se tratar da última temporada, pois a mesma teve uma boa parcela na contribuição para todo o desenrolar da história.
Entretanto, sua relação com as outras sestras se mostrou mais solidificada, apesar da indiferença/esquecimento em certos momentos. Uma das cenas mais significativas foi o parto dos gêmeos de Helena, onde pudemos entender o que seus produtores queriam mostrar na relação de todas, principalmente ao se referir a própria ligação intensa de gêmeas. De certa forma, o seriado aborda de maneira bem profunda a relação de irmãs, da semelhança de uma pessoa nascida de maneira natural e a de uma pessoa produzida em laboratório através de manipulações genéticas, fornecendo um olhar mais humanizado mesmo se tratando de um projeto científico, com possibilidades reais de falha.
Um ponto conflitante (mas ao mesmo tempo interessante) é a relação de Rachel e Kira (Skyler Wexler), que mostra o forte desejo de Rachel em ser mãe e sua frustração em não consegui-lo, porém a mesma constrói para si uma verdade, a qual custamos a acreditar, mas que no final se torna previsível.
Com diversas ramificações, a história se encerra e deixa pontas soltas bastante consideráveis, como a impunidade dos membros da neolution; o começo dessa ciência; as oportunidades com o dom de Kira e a possibilidade real da prática ter seguidores. Contudo, se referencia nas cenas em que a frase “The future is female” (o futuro é feminino) é bastante dita, por combinar perfeitamente com a realidade do papel da mulher na ciência.
Já no filme Estrelas Além do Tempo, em que vemos três cientistas que, apesar de brilhantes, demoraram para ter seu reconhecimento, demonstrando em como a sociedade levou um tempo para aceitar em colocar o intelecto feminino em tal patamar de relevância, podemos entender um pouco dessa tal importância demonstrada no seriado.
Em vista que o significativo dessa visão é a construção de todas as personagens mulheres possuírem as mesmas características: fortes, autônomas e cheias de personalidade, colocando a mulher em um papel, não só no passado científico mas também nas possibilidades futuras.
Por fim, Orphan Black conseguiu explanar e explicar um pouco sobre os temas sugeridos e, a partir dos projetos LEDA e CASTOR, tivemos contato com uma série científica de bastante qualidade e preocupação em demonstrar teorias e iluminar ideias. A clonagem, como já dita no início desse texto, é algo real, e Orphan Black com certeza deixa a curiosidade e a genialidade de sua premissa. Mais uma série bem trabalhada para o currículo da BBC.
Um comentário em “Orphan Black: A ciência é feminina”
Comentários estão encerrado.