Os Instrumentos Mortais: a saga de livros que virou filme e série
Por Mayara Zago
A saga Os Instrumentos Mortais foi escrita pela autora Cassandra Clare e teve seu primeiro livro publicado em 2007, chegando ao fim em 2014, quando a saga teve seu ponto final. Ao todo são seis livros, sendo eles: Cidade dos Ossos; Cidade das Cinzas; Cidade de Vidro; Cidade dos Anjos Caídos; Cidade das Almas Perdidas e Cidade do Fogo Celestial.
Apesar de possuir duas adaptações, o enredo continua o mesmo: Clary Fray é uma garota que, após testemunhar um evento em uma boate e ter sua mãe sequestrada, descobre que na verdade faz parte dos Nephilim (raça de humanos nascidos com sangue de anjos), mais conhecidos como caçadores de sombras. Sua vida vira de cabeça para baixo, fazendo com Clary conheça esse misterioso mundo que lhe foi tirado de sua memória.
A primeira adaptação foi um filme feito em 2013, com o nome de Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos, o qual tinha como intenção retratar o primeiro livro da saga – e que após duras críticas e bilheteria fraca, não teve continuações. No filme, há algumas semelhanças com os livros de Cassandra; contudo, apesar do esforço por parte do diretor Harald Zwart, que dirigiu Karate Kid (2010), o longa não convence e tem uma história totalmente jogada. Uma adaptação decepcionante em termos de fidelidade ao primeiro livro e uma história sem sentido ao demonstrar o mundo dos caçadores de sombras.
Os atores escalados para protagonizar o filme tiveram que arcar sozinhos com a responsabilidade de entreter o público e serem fiéis em seus gestos e características para ceder a expectativa de quem já conhecia a aventura. Tudo isso por conta da alta defasagem de costura de enredo, com buracos na história e pouca informação.
Mas, por conta da má escolha de elenco, nem os atores por si só (independente de boa atuação em outros filmes e similitude física), conseguiram elevar o longa a uma posição que pudesse entreter e instigar seu público a querer uma continuação. É o caso – entre outros – de Jamie Campbell Bower, ator que ilustra Jace Wayland, um forte caçador de sombras que ajuda Clary Fray (Lily Collins) com suas habilidades e que se vê em um triângulo amoroso com ela e Simon Lewis (Robert Sheehan). A atuação forçada de Bower permitiu que os espectadores não pudessem ter o contato com o verdadeiro Jace Wayland, um bad boy irônico, piadista e de grande ego; um líder de forte presença.
Contudo, há pontos positivos em relação às representações dos atores, como é o caso da atuação de Lily Collins e Godfrey Gao, que se destacaram por conta própria tanto por suas atuações como pelas semelhanças física e emocionais com os personagens interpretados.
Lily Collins interpreta Clary Fray com tanta similaridade à literatura que seu papel parece combinar com sua personalidade, dando a impressão que a atriz possui o mesmo jeito da protagonista literária, apesar de seu cabelo ser mais escuro que o da personagem dos livros. Ou seja, uma garota inserida por acaso a um mundo que não conhecia exigia dela certa maturidade, responsabilidades e treinamento, características que Collins pôde interpretar com louvor. Assim como Godfrey Gao, o Magnus Bane no filme, que além de ser parecido fisicamente com o feiticeiro, conseguiu transparecer o jeito misterioso, dinâmico e de forte originalidade de seu personagem.
Outra coisa que agrada no filme é o cuidado com os cenários. Detalhes e representações reais do que está escrito nas obras de Cassandra fazem com que o filme retrate de forma verossímil a essência deste mundo obscuro que é o dos caçadores de sombras.
Já a segunda adaptação, a série de TV da Freeform que o Streaming Netflix possui direitos, Shadowhunters, deixa a desejar em certos aspectos. Com uma temporada concluída, o seriado teve sua estreia em janeiro de 2016 e, recentemente, retornou à televisão em sua segunda temporada explorando e misturando fragmentos dos livros de Cassandra.
Ao ser anunciada em março de 2015, mudanças estavam previstas para ocorrer – principalmente por conta do fracasso de bilheteria de sua adaptação cinematográfica -, porém tudo seria válido em decorrência da segunda chance para os fãs e para a própria saga.
Em seus primeiros episódios, é possível ver em como o antigo principal produtor executivo e criador da série Edward Decter priorizou a semelhança física ao contratar alguns dos atores. Mas essa característica deixa a desejar quando se trata de boas atuações, como é caso da atriz Katherine McNamara, a protagonista Clary Fray. Por ser seu grande primeiro papel, é possível nitidamente perceber o esforço da atriz, que vem melhorando com o passar dos episódios, mas que infelizmente ainda está longe da garota tímida e sem habilidades que é demonstrada nos livros (onde se é possível levantar a questão de, talvez, uma má releitura da personagem por parte de seu produtor para que as coisas aconteçam rapidamente para o desenrolar da história).
É importante ressaltar que em sua primeira temporada não só Katherine teve atuações bem inferiores aos que esperados para a série, mas também Dominic Sherwood, o Jace Wayland do programa. Contudo, apesar disso e dos cenários não serem tão parecidos, como também algumas cenas, personagens e fatos terem sido incluídos mesmo não estando presentes na saga, o seriado é uma adaptação e alguns pontos positivos surgiram com tais mudanças, elevando sua qualidade.
A trilha sonora combina com os momentos do seriado e, ao entrar em sintonia com o ritmo da série, seu espectador se vê inundado de cenas bem feitas, principalmente levando-se em conta o orçamento destinado a série (o que faz pecar nos efeitos visuais). Outra relevância ao se falar de Shadowhunters é a boa interpretação e atuação dos personagens Magnus Bane (Harry Shum Jr.), Alec Lighwood (Matthew Daddario), Isabelle Lightwood ( Emeraude Toubia) e Simon Lewis ( Alberto Rosende), que, juntos e separadamente, puderam trazer ao programa boas dinâmicas, química e entrosamento entre um elenco novo e cheio de pressão.
Atualmente em sua segunda temporada, o programa de TV passa por mudanças em se tratar da forma como o roteiro é realizado em decorrência de seus novos produtores – o que inevitavelmente pode ou não prejudicar o futuro do programa, sendo eles Todd Slavkin e Darren Swimmer, de Smallville, e Matt Hastings, conhecido por seus trabalhos em The Originals, entre outros. Isso deixa um fio de esperança de melhora e mudanças em pontos incisivos do seriado, aprimorando alguns que já estavam dando certo.
Curiosidade: A saga Instrumentos Mortais possui spin-offs e obras adicionais, o que complementa a história dos seis livros. Cassandra também criou outra saga no mundo dos caçadores de sombras, a chamada Os Artifícios das Trevas. Sua estreia ocorreu em março de 2016, passando-se cinco anos após a história de Instrumentos Mortais, a qual tem personagens com ligações diretas com a primeira história.