Rebobinando: O Jardim Secreto (1993)
Se existe alguém que não possui aquele clássico de infância que marca inexplicavelmente, podemos dizer aquele conhecido bordão (mas de maneira brincalhona, claro) que esse alguém “não teve infância”. Faz parte de nossas vidas nos emocionarmos com filmes ingênuos, onde a despretensão nos leva para caminhos contemplativos de sentimentos sutis e memoráveis. No meu caso, apesar do filme de hoje ser mais velho do que eu, me lembro de assisti-lo durante uma Sessão da Tarde no início dos anos 2000, e nunca me esqueci da beleza visual e da história contagiante que ele possui. Uso o Rebobinando desta vez de maneira pessoal para homenagear essa incrível obra que fez parte da infância de muitos cinéfilos, inclusive da minha. O clássico se chama…
O JARDIM SECRETO (1993)
Embora seja raro, é possível que existam muitas pessoas que nunca assistiram O Jardim Secreto, portanto é importante deixar claro que não se trata de um filme cheio de magias inconcebíveis, como a tão famosa Alice no País das Maravilhas, história refilmada tantas vezes. O filme é na verdade metafórico e sensível, delicado como qualquer espírito juvenil, e consegue entreter com pouco, sem extrapolar para efeitos visuais excessivos e efeitos sonoros abundantes. É uma obra que ensina como a beleza e um ambiente acolhedor podem ser transmitidos através de cores chamativas, um jardim florido, uma trilha sonora tocante, e personagens encantadores. Para introduzir o contexto do filme, nada melhor que a sinopse encontrada no site AdoroCinema:
No início do século XX, Mary Lennox (Kate Maberly) vivia na Índia com seus pais, que não lhe davam muita atenção. Porém um estouro de elefantes os mata e, seis meses depois, Mary desembarca em Liverpool, na Inglaterra, para viver com Lorde Craven (John Lynch), seu tio, na mansão Misselthwaite, uma construção feita de pedra, madeira e metal na qual existem segredos e antigas feridas. A mansão é administrada pela Sra. Medlock (Maggie Smith), uma rigorosa e fria governanta. Lorde Craven perdeu a mulher há dez anos e nunca mais conseguiu superar a tragédia.
Para piorar, Colin Craven (Heydon Prowse), seu filho, também sobre de extrema apatia, sempre recolhido no seu quarto. Mais uma vez negligenciada, Mary passa a explorar a propriedade e descobre um jardim abandonado. Entusiasmada com a descoberta, Mary decide restaurar o lugar com a ajuda do filho de um dos serviçais da casa, conquistando assim a atenção do primo doente. Juntos, eles desafiam as regras da casa e o velho jardim se transforma em um lugar mágico, cheio de flores, surpresas e alegria. O jardim secreto é um lugar fantástico onde não existe tristeza e arrependimento, um lugar onde a força da amizade pode trazer de volta a beleza da vida.
Maggie Smith está deslumbrante em seu papel, super convincente, mas são as crianças que protagonizam as aventuras tão cativantes do filme. Mary é uma menina rebelde e curiosa, Dickon (Andrew Knott) é um menino bastante atencioso, enquanto Colin, por sua vez, se mostra muito mimado. Essas características bastam para pegar o expectador de jeito e fazê-lo querer conhecer a história – um mérito do roteiro que, além de caracterizar bem seus personagens, também transmite um enredo gracioso de acontecimentos.
Esse drama infantil funciona como uma metáfora à vida e seus obstáculos, à vontade que nos falta em alguns momentos difíceis e à força da amizade que faz um contrapeso à ausência paternal e maternal. Podemos extrair diversas comparações e relações com nossa vida, pois o jardim representa muito mais do que um simples lugar bonito para se passear. Para Mary e os meninos, ele se torna um refúgio de seus problemas e uma porta para a felicidade que as crianças nunca tiveram, principalmente os personagens de Colin e Mary, que possuem suas diferenças como ele ter medo da vida ao ar livre por suas condições, e ela querer sempre desbravar o mundo com sua coragem e sua personalidade destemida. Mas, ao mesmo tempo, ambos têm pontos em comum, como a infelicidade que carregam desde a ausência de seus pais em suas vidas.
A simplicidade faz de O Jardim Secreto uma das lições de vida mais belas que o cinema tem a oferecer, uma experiência imperdível a qualquer ser humano. Tive a sorte de vê-lo enquanto ainda era uma simples criança, mas sei que mesmo adolescentes e adultos podem se comover com essa história, e talvez até extrair mais do que uma simples criança conseguiria. Antes de assistir (ou rever) ao filme, meu conselho é se entregar à inocência que se manifesta nessas três crianças, e no jardim, que se mostra um importante “personagem” do filme, senão quase um protagonista. Se deixe levar pela fidelidade dos figurinos, pela agradável iluminação e, finalmente, pelas expressões realistas desses atores mirins, e então terei a certeza que sentirá a mesma paixão que sinto por essa obra.