Rebobinando: Um Estranho no Ninho (1975)

Rebobinando: Um Estranho no Ninho (1975)

Como ser um amante da Sétima Arte e não amar a década de 70? Incontáveis produções que marcaram o século se encontram nessa década, e é uma delas que o Rebobinando traz hoje para você. Não sejamos tão ousados ao afirmar que é o melhor filme dos anos 70, porém ele é, sem dúvidas, um dos melhores.

UM ESTRANHO NO NINHO (1975)

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Pela foto inicial, pode impressionar a quantidade de Oscars que o filme levou para casa (melhor diretor, ator, atriz, roteiro adaptado, e melhor filme), mas na verdade o que é realmente notável é que o filme mereceu todos esses prêmios, consolidando-se como um marco na história do cinema. Os elementos visuais e narrativos do filme andam de mãos dadas e agradam os olhos do público em todas as cenas. Não é difícil dizer que é também uma das mais relevantes interpretações de Jack Nicholson, considerado por muitos seu melhor trabalho.

A história parte de um prisioneiro chamado Randall Patrick McMurphy (Jack Nicholson), que se finge de louco para não ter de exercer trabalhos na prisão, sendo mandado à uma instituição para doentes mentais. Inicialmente ele estranha o ambiente e seus pacientes, mas aos poucos passa a criar uma significativa amizade com os doentes e os motiva a se rebelarem contra os métodos cruéis da enfermeira Mildred Ratched (Louise Fletcher), sem saber quais serão as consequências de seus atos.

As reflexões contidas no filme vão desde o simples poder do afeto entre amigos, até os questionamentos do que é justo e absurdo. O filme nos mostra uma ditadura interna num hospital psiquiátrico, em que os pacientes são submissos a ordens e restrições exageradas, desconhecendo a felicidade. A chegada de McMurphy promove um alvoroço dentro da instituição, e os pacientes, agora com um líder, conseguem lutar por direitos.

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Outro ponto que chama a atenção é que o filme possuiu um baixíssimo orçamento (menos de 5 milhões de dólares), arrecadando por fim mais de 100 milhões de dólares. E ainda com o baixo orçamento presente, o filme surpreende com uma bela fotografia de cores quentes sendo representadas pela cor de pele acentuada dos atores junto à roupas brancas e cenários de pouca cor, o que pode ser interpretado como sendo os personagens as únicas coisas vivas e importantes dentro daquele ambiente, capazes de transformarem sua realidade por meio de suas forças de vontade. Ambientes claros e iluminados também expressam uma “luz no fim do túnel”, ou seja, a esperança que todos possuem de terem uma vida melhor.

A qualidade da obra não se limita à fotografia, pois apresenta um roteiro diferente, quase naturalista, que esboça várias cenas cômicas, além de dramáticas. Os diálogos conseguem passar uma sensação de puro realismo, fazendo com que o espectador agarre o enredo decididamente. A direção de Miloš Forman não permite erros, e é realizada com excelência. Com certeza as atuações de todos os pacientes também são profundas, não deixando o filme cair somente nas mãos de Jack Nicholson e Louise Fletcher.

Os personagens são extremamente bem explorados, uma vez que o filme dedica um bom tempo para caracterizar cada um deles, alimentando a curiosidade do espectador, que não consegue odiar nenhum paciente. Há o estressado, o quieto, o tímido, o convencido, o sofisticado, o engraçado e muitos outros. O hospital também é percorrido de forma satisfatória, com vários locais, o que dá uma boa noção de espaço ao público. Incrivelmente, o filme agrada todos os públicos por saber variar suas cenas em diversos gêneros sem perder seu caráter genuíno. A obra promove no espectador várias emoções como riso, preocupação, anseio, raiva, pena e um grande apreço pelos pacientes. E em especial, McMurphy.

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É preciso também citar o grande êxito do filme em seu final, deixando ao espectador sua interpretação individual da mensagem do filme, que questiona até onde devemos lutar por nossa liberdade e nossas vontades sem se preocupar com onde nossas ações podem desembarcar. Um filme sobre a vida, nossos relacionamentos, nossos medos, e principalmente nossa liberdade, que só pode ser conquistada através de nós.

Esse filme já foi citado pelo Cinematecando em um artigo especial sobre Jack Nicholson e em outro artigo sobre filmes inspiradores.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.