42ª Mostra – Crítica: A Odisseia de Peter
Labirinto de sonhos e lembranças
O menino russo Petya (interpretado por Dmitriy Gabrielyan) é um dos personagens infantis mais carismáticos do cinema recente. Ele é o coração de A Odisseia de Peter, filme de estreia da dupla Alexey Kuzmin-Tarasov e Anna Kolchina, que oferece uma porta de entrada para a mente desta criança.
E não se trata de uma criança qualquer. Petya é um desenhista de mão cheia, munido de uma imaginação fértil e nostálgico pelas lembranças da antiga casa, nos arredores de Moscou, de onde teve de sair contra a vontade quando os pais decidiram mudar a família para a Alemanha.
Os motivos exatos desta mudança nunca são abordados no filme, uma decisão coerente com o fato da decisão ter sido feita sem a vontade do menino ser considerada.
Se a sensação de deslocamento já é algo natural para qualquer pré-adolescente de doze anos, imagine para um garotinho que acaba de chegar em território estrangeiro, sem falar a língua e com dificuldades para se enturmar. Já que a realidade não lhe é gentil, Petya busca refúgio nas recordações e em seus sonhos, dois espaços que dividem a narrativa do filme com o momento presente de sua vida.
Os cenários são esteticamente bem delimitados. As memórias de sua convivência com a avô e uma amiga por quem é apaixonado são banhadas por um sol de verão. A árdua adaptação ao território germânico tem ao fundo o ambiente frio de inverno – para azar do garoto sem a neve, que ele tanto gosta. A fotografia dá destaque aos planos abertos, reforçando estes contrastes.
Mas o grande diferencial de A Odisseia de Peter está nas sequências que representam os sonhos de seu pequeno protagonista. São imagens oníricas, com alto teor de teatralidade, que revelam o inconsciente de Petya, suas percepções sobre isolamento e o desejo de fazer o movimento contrário ao de tanta gente que busca um futuro melhor longe do local que se acostumou a chamar de lar. Tal qual na clássica história escrita por Homero, está aí um herói submetido a todo tipo de dificuldade antes de poder voltar à terra natal.
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