42ª Mostra – Crítica: O Mau Exemplo de Cameron Post

42ª Mostra – Crítica: O Mau Exemplo de Cameron Post

Controlar o incontrolável

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“Cura gay”, identidade de gênero, influência da religião no comportamento sexual de quem está se descobrindo. São temas de debate na sociedade mundial contemporânea e também de O Mau Exemplo de Cameron Post, filme que se aproveita do timing para ganhar ainda mais relevância, haja visto o prêmio outorgado pelo júri conquistado no início deste ano no Festival de Sundance, muito por conta da necessária discussão que gera.

O roteiro, adaptado de livro escrito por Emily M. Danforth, se passa na primeira metade dos anos 90, uma época em que o homossexualismo era visto de forma ainda mais preconceituosa do que hoje. Ao ser flagrada pelo então namorado enquanto beijava outra garota, a adolescente Cameron (Chloë Grace Moretz) é enviada para um centro católico que supostamente “reverte” meninos gays e meninas lésbicas.

O Mau Exemplo de Cameron Post pode até soar como comédia em alguns momentos, dado o absurdo que é ver os responsáveis pela instituição utilizando argumentos frágeis para convencer aqueles jovens que seus sentimentos e impulsos são pecaminosos. Um destes métodos, por exemplo, é chamado de “Ponta do Iceberg”, no qual os alunos precisam relatar experiências considerada traumatizantes que teriam os transformado em homossexuais.

Mas o filme não esconde o quão danoso é fazer alguém se odiar apenas por sentir atração por indivíduos do mesmo sexo. Rejeição familiar, autoflagelação e um sentimento perene de inadequação pairam acima daquele grupo de personagens, levando-os até a atitudes drásticas em alguns momentos.

Em seu segundo longa-metragem, a cineasta Desiree Akhavan aposta na força dos assuntos de seu roteiro, escrito em parceria com Cecilia Frugiuele, e dirige as cenas de forma tradicional, claramente menos preocupada com ousadias estéticas do que em atingir o maior número de pessoas, principalmente da mesma faixa-etária da protagonista.

Akhavan tem um recado a passar, e faz isso de forma direta e objetiva. Encaixa ainda uma série de referências da cultura pop, como David Bowie, o hit What’s Up (do grupo 4 Non Blondes) e uma bizarra série de exercícios aeróbicos cristãos, que realmente era produzida e comercializada nos Estados Unidos.

Acostumada a estrelar filmes de diferentes gêneros, como a ficção-científica A 5ª Onda, o remake do terror Carrie – A Estranha e o drama Se Eu Ficar, Chloë Grace Moretz tem um ótimo desempenho, encarnando as dúvidas, fragilidades e conflitos de Cameron sem afetações e de maneira naturalista. Ao seu lado, destaque também para Sasha Lane (de Docinho da América) e Forrest Goodluck, com quem forma uma tríade de sustentação e afeto, algo tão necessário para quem passa por situações como as descritas no longa.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil