43ª Mostra – Crítica: Frankie
Caleidoscópio de fins
É provável que você saia da sessão de Frankie com uma vontade: passar um tempo em Sintra, a cidade portuguesa onde se passa a história. É lá que a personagem-título (interpretada por Isabelle Huppert) reúne sua heterodoxa família para aquela que provavelmente será uma despedida. Ela sofre de câncer em estágio avançado e seus médicos a deram alguns meses de vida. Ao juntar seus entes queridos naquela paisagem onde o tempo parece ter parado, no fundo a protagonista busca o mesmo, como se pudesse manipular o efeito do relógio.
Mas o correr dos ponteiros é uma das poucas coisas imunes às maquinações de Frankie. Como sabe disso, ela tenta então atuar em outras frentes, como a aproximação do filho Paul (Jeremie Renier), que já se aproxima da meia-idade e segue solteiro, e Ilene (Marisa Tomei), mesmo que esta tenha ido à Europa acompanhado do novo namorado, Gary (Greg Kinnear).
No roteiro de personagens múltiplos provenientes da elite intelectual e seus desencontros amorosos, pelo uso da cidade de Sintra como parte integrante da trama e pelos diálogos agridoces, o filme lembra alguns dos dramas da época áurea de Woody Allen, como Maridos e Esposas e Hannah e Suas Irmãs.
Assim, se Frankie é de fato um filme “classudo”, ao mesmo tempo pouco traz de original. Há ainda um desequilíbrio entre os núcleos, tornando um deles – o casal em crise interpretado por Vinette Robinson e Ariyon Bakare – no limite do superficial. Conhecido pelos retratos intimistas que fez em longas como Deixe a Luz Acesa e O Amor É Estranho, o diretor/roteirista Ira Sachs encontra um pouco de dificuldade ao optar por dividir sua história em diferentes fragmentos.
Anti-romântico, o longa é um caleidoscópio de fins de relacionamento. Numa produção tão preocupada em versar sobre como as coisas acabam (ou podem recomeçar, dependendo do otimismo do espectador), é até natural que a última cena seja de uma beleza arrebatadora. E um motivo a mais para querer conhecer Sintra.