O Nome da Morte | Entrevista com os atores Marco Pigossi e Fabiula Nascimento
Inspirado livremente na história real de Júlio Santana, um matador de aluguel que confessou ter assassinado 492 pessoas, O Nome da Morte , dirigido por Henrique Goldman, traz Marco Pigossi no papel do protagonista e Fabiula Nascimento como Maria, mulher por quem ele se apaixona. O Cinematecando conversou com a dupla de atores sobre o processo de levar aos cinemas uma trama marcada pela violência e personagens de caráter duvidoso.
Leia a entrevista abaixo.
MARCO PIGOSSI (Julio)
Como se desenvolveu sua criação de personagem juntamente com o restante da equipe?
Como eu sempre digo, o processo do ator é como um mosaico: você vai partindo de várias coisas, juntando os pedacinhos e vai criando aquele personagem. Tivemos o livro como ponto de partida para entender esse universo onde ele vive, o que movimenta o Júlio [personagem], e também tivemos uma semana antes das gravações pra viver aquele lugar [Jalapão, no Tocantins, onde parte do longa foi rodado] e descobrir o que ele diz sobre os personagens. Eu, a Fabiula e o André [Mattos, que interpreta o tio de Julio] tivemos uma relação muito próxima e conjunta com trabalhos de pesquisa, improvisação e descoberta. Aos poucos eu fui notando que o Júlio era um personagem de muito mais desconstrução que construção, pois se tratava de compreender que ele nunca teve acesso a nenhuma educação e cultura, o que o torna uma pessoa muito suscetível e aberto a realidade que ele encontrou.
O filme conta com algumas cenas bem violentas, inclusive com mulheres. Qual cena mais te marcou em relação aos crimes?
Eu acredito que a maior parte das pessoas que o Júlio matou eram indígenas, incluindo mulheres. A cena que mais me marcou foi a cena com a Marthinha [Martha Nowill], que é uma cena pesada que tivemos que refazer muitas vezes, com todo o cuidado possível, pois envolvia força física, o chão ficou molhado, e deu muito trabalho. Porém toda essa violência do filme é uma denúncia da nossa triste realidade e eu acredito e espero que seja uma das questões levantadas que vai ser discutida pelo público.
Você interpretou um personagem com uma personalidade que difere muito da sua vida pessoal e particular. Ainda assim foi possível encontrar alguma semelhança?
É curioso isso. Esse tipo de pergunta é sempre complicada, porque pra mim todo personagem parte do ponto de vista do ator. É a sua visão de mundo que você coloca ali. É a compreesão do ator baseado nas suas experiências que gera aquele resultado que vemos na tela. Mas particularmente eu não notei nenhuma semelhança entre eu, Marco, e o Julio. Acredito que ele seja completamente diferente de mim, tanto psicologicamente quanto fisicamente.
FABIULA NASCIMENTO (Maria)
No cinema você costuma interpretar mulheres fortes e com muita personalidade, como em O Lobo Atrás da Porta e até na comédia S.O.S. – Mulheres ao Mar. Na sua opinião, qual a principal diferença entre essas personagens e a Maria?
Eu gosto de mulheres fortes, gosto de contar essas histórias, mas acho que de todas a Maria é a menos valente. Ela tem a coragem de estar naquela situação mas não acredito que ela tenha forças pra sair dela. Interpretar a Maria foi um exercício muito interessante, pois ela é uma mulher sem oportunidades, sem perspectivas. Ao longo da história ela sucumbe às circunstâncias das escolhas do marido, e não consegue viver com aquele sentimento de culpa. Ela passa a virar outra pessoa pra tentar fugir daquilo tudo que está acontecendo, e pra continuar casada com o homem que ela ama, que é pai do filho dela, e que mata gente.
O André Mattos também foi creditado como preparador de atores. Como se deu a relação entre vocês e os atores locais?
O André preparou os atores locais, pois tivemos muita colaboração com profissionais da própria região. E como a gente tinha uma relação muito familiar e acolhedora, acabamos nos ajudando a nos preparar e entrar dentro dos nossos personagens. Todos trouxemos bagagens diferentes pra dentro desse grupo, o que ajudou bastante. A gente até propunha alguns jogos, cenas e debates que tornou tudo bem interessante.
Você comentou na coletiva que o temperamento da Maria é extremamente diferente do seu, assim como Pigossi com o Julio. Na sua visão, existe alguma coisa que aproxime você da sua personagem?
Acredito que eu não tenha nada da Maria. A doçura dela não é a mesma que a minha, o maternal dela não é o mesmo que o meu. E talvez essa tenha sido uma das coisas mais interessantes em fazer essa personagem: a chance de experienciar algo novo, diferente, ousado, que foge completamente da minha zona de conforto.
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