Cine PE 2018: Cobertura do 3º dia

Cine PE 2018: Cobertura do 3º dia

Evento chega na metade com homenagem a Rodrigo Santoro e exibição de curtas e longas-metragens marcantes

A 3ª noite do festival Cine PE foi demarcada pela exibição de obras impactantes com temáticas atuais, e também pela bela homenagem ao ator Rodrigo Santoro (leia mais aqui). Foram apresentados os curtas Plantae, de Guilherme Gehr, Através de Ti, Diego Tafarel, e Vidas Cinzas, de Leonardo Martinelli. Na Mostra Competitiva de Longas, o público conferiu Marcha Cega, de Gabriel Di Giacomo, e Dias Vazios, de Robney Bruno Almeida.

Plantae é uma animação que trata o desmatamento e o prejudicamento da fauna e flora da floresta amazônica sob o ponto de vista de um desmatador (este observa os danos irreversíveis de seu trabalho). Desprovido de diálogos e focando nos belos sons da natureza em contraposição com a destruição – ou melhor, o sumiço – de animais e plantas, o curta é impactante e devastador em medidas iguais.

Através de Ti aborda um casal e um amigo em comum que vão viajar a uma casa de campo no final de semana, mas que sabem que, no fundo, há uma tensão entre eles. Por mais que a conexão entre os atores chame a atenção, o roteiro não se esforça em contar uma história que construa um clima negativo muito crível entre os jovens, resultando em uma história rasa e ausente de qualquer emoção.

Cena de Vidas Cinzas, um dos melhores curtas apresentados até aqui

Com Vidas Cinzas, o nível da 3ª noite de festival manteve-se no alto. O curta de Leonardo Martinelli é um falso documentário sobre a crise social, política e econômica que o Rio de Janeiro enfrenta há tempos. Reunindo depoimentos de Wagner Moura, Gregório Duvivier, Flavio Bolsonaro e da finada vereadora Marielle Franco, Vidas Cinzas fala sobre uma medida do governo que cortou as cores da cidade, deixando-a em preto e branco. O que mais chama a atenção, no entanto, não é a ideia em si, pois o que é proposto pela obra não soa tão absurdo quando colocamos na balança o que a população do RJ já passa todos os dias. Um trabalho que demonstra excelência e brilhantismo – ainda que em P&B.


Os longas

Traçando um parâmetro semelhante, realista e até assustador com Vidas Cinzas, o longa documentário (desta vez abordando algo real) Marcha Cega retrata o terror que a polícia militar da cidade de São Paulo realiza contra manifestantes e jovens que buscam ser ouvidos com relação às injustiças que os rodeiam em diversos âmbitos. Essas figuras e até mesmo o fotógrafo Sérgio Andrade da Silva, que perdeu a visão de um olho após ser atingido por uma bala de borracha em 2013, compõem a narrativa do documentário, que traça de maneira padrão (mas não menos competente) uma estrutura que nos faz enxergar o perigo que é depender da polícia e da grande mídia com relação a temas relevantes e que fazem parte das nossas rotinas. Mais do que necessário, talvez Marcha Cena seja uma das mais importantes obras apresentadas nesta edição do Cine PE.

Finalizando a noite, o longa Dias Vazios veio para provar a força que roteiros que visam fugir do óbvio possuem. Com uma narrativa não-linear e um elenco jovem afiado, o longa é uma experiência profunda dentro da imaginação e receios de um jovem curioso. Com uma boa estruturação ao costurar sutilmente elementos e diálogos importantes, a história vai se desenrolando de maneira natural e surpreende com uma resolução que foge do convencional. Uma obra que só vem a enriquecer o cinema brasileiro em 2018.


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Barbara Demerov