Crítica: 10 Segundos Para Vencer

Crítica: 10 Segundos Para Vencer

Em nome do pai

Imagem do filme '10 Segundos Para Vencer'

Um dos clichês de filmes sobre boxe é dizer que o oponente mais duro que um lutador enfrenta ao longo da carreira é ele mesmo. Apesar da frase estar presente em dado momento de 10 Segundos Para Vencer, na prática não é isto que o longa simboliza. O grande embate que move a trama não está no mundo interno de Eder Jofre (Daniel de Oliveira, de Cazuza – O Tempo Não Para e Aos Teus Olhos), mas sim na relação com o exigente pai, representado por Osmar Prado.

Com a decisão comum à grande parte das cinebiografias brasileiras recentes de contar a história de seu protagonista desde a infância, o roteiro escrito por Thomas Stavros (de Polícia Federal – A Lei é Para Todos) recorre a esta relação de pai e filho como força motriz, utilizando o boxe como pano de fundo.

No filme, Eder e Kid Jofre são pouco mais do arquétipos. O primeiro é um rapaz dedicado, humilde. Seu pai é um homem duro, de poucas demonstrações de afeto. Além do sangue familiar que corre em suas veias, há em comum entre eles o pugilismo. O esporte, porém, parece mais uma maneira do filho procurar a aprovação de seu progenitor do que uma escolha própria.

De onde vem este desejo de ser validado? 10 Segundos Para Vencer não procura aprofundar os traços psicológicos de seu protagonista, mas se esbalda em cenas de sangue, suor e lágrimas filmadas em super close. É uma tentativa de soar grandioso à força.

Esta manipulação sem sutilezas também pode ser vista na cena em que Eder e Kid vão aos Estados Unidos pela primeira vez, e são ridicularizados pela imprensa local, por jornalistas retratados como alunos do ensino infantil fazendo traquinagens, para dar uma sensação de “nós x eles”. Ou então nas vezes que o diretor José Alvarenga Jr. corta de um diálogo para a reação de um terceiro personagem que os ouve, indicando como o espectador deve reagir.

Em entrevistas recentes, o cineasta citou, claro, Touro Indomável como uma de suas inspirações para o longa. Há até uma sequência que emula um vídeo amador do casamento do protagonista, homenagem direta ao clássico de 1980. Porém, as semelhanças param por aí.

Enquanto a obra-prima de Scorsese vai fundo na alma de um lutador capaz de esmagar os adversários, mas incapaz de se manter de pé fora do ringue, 10 Segundos Para Vencer foge da luta, ao passar rapidamente pelos anos em que Eder Jofre decidiu se afastar do boxe, antes de voltar a conquistar um título mundial. Ali estaria uma história pouco conhecida e provavelmente bastante simbólica do que havia de mais profundo em seu protagonista. É possível que os produtores tenham considerado este trecho pouco cinematográfico, o que explicaria muito do resultado.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil