Crítica: A Freira
Sem arriscar muito, filme de terror aposta na ambientação macabra para causar calafrios
Certos filmes de terror funcionam como se fosse passeios por casas mal-assombradas, nos quais nos sentimos na pele de seus personagens enquanto estes caminham amedrontados por corredores sombrios, salas aterrorizantes e dão de cara com as mais macabras aparições. A Freira confia numa identificação previamente conquistada para funcionar, se aproveitando do sucesso da franquia Invocação do Mal para receber um público já sugestionado a entrar no clima de tensão e investir mais em sequências de ação do que na trama em si.
Estamos no final dos anos 50, portanto antes ainda dos eventos retratados em Annabelle 2: A Criação do Mal. Um convento localizado no interior remoto da Romênia é amaldiçoado por estranhos acontecimentos, incluindo o suicídio por enforcamento de uma das jovens freiras que viviam ali. Quando o corpo é encontrado pelo humilde Maurice (Jonas Bloquet), um padre (Demián Bichir) e uma noviça (Taissa Farmiga) são enviados para descobrir o que está por trás dos acontecimentos.
O filme tem na ambientação sua maior qualidade. Locais como o cemitério onde pessoas eram enterradas em lápides que traziam sinos para o indivíduo tocar de forma a avisar se estivesse ainda vivo dentro da cova, as instalações cobertas com cruzes, aliadas ainda a uma espécie de canto gregoriano sinistro dividindo o fundo sonoro com o murmúrio constante de uma reza que precisa ser entoada para afastar os maus espíritos formam um ar de “vai dar ruim”.
Apenas em seu segundo longa-metragem, o diretor Corin Hardy faz o básico, mantendo sua câmera quase o tempo inteiro em primeiro plano nos personagens enquanto algo se prepara ao fundo para atacá-los. Se faltam momentos de grande susto, a claustrofobia é a palavra de ordem: não são poucas as vezes em que os protagonistas aparecem encurralados, como se diante de um maldição que mantém refém toda a humanidade.
A transformação de um lugar de devoção no berço do infortúnio que move boa parte da franquia é um acerto. Porém, este teste de fé, representado pela personagem de Taissa Farmiga, uma jovem com ideias próprias sobre a interpretação da Bíblia que ainda não fez os votos finais, poderia ser mais explorado, mas há pouco interesse do filme nisso.
“Deus termina aqui”, como diz o aviso em uma das muitas passagens secretas avistadas no convento. Para que a saga de terror continue em frente, o mal sempre encontra uma forma de sobreviver. E o protocolar A Freira garante que essa engrenagem se mantenha em andamento.