Crítica: A Maldição da Chorona

Crítica: A Maldição da Chorona

Lágrimas no escuro

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À essa altura parece impossível que a Warner lance um filme de terror sem que este esteja minimamente ligado à franquia Invocação do Mal. Não importa se a referência seja importante para a trama ou irrelevante, vale tudo para tentar criar um sentido maior a uma produção que, no caso A Maldição da Chorona, no fundo só quer ser uma boa história de terror – como se este objetivo já não fosse mais suficiente.

Então coloca-se como personagem secundário, em não mais que duas cenas, o mesmo padre Perez (Tony Amendola), presente no primeiro Annabelle. Sua única função é contar a lenda da assombração da vez, o espírito de uma mulher mexicana que, após matar os dois filhos e se suicidar em seguida, ronda o mundo atrás de novas vítimas. Não se sabe muito bem quais são seus critérios de escolha, mas o alvo da vez é a família da assistente social Anna (Linda Cardellini, vista recentemente em Green Book – O Guia).

Ainda em luto pela perda do marido policial, a protagonista agora lida com a culpa pela morte dos filhos pequenos da mulher que atendia. Anna percebe que, ao contrário do que pensava, aquela estranha história sobre uma figura demoníaca em busca de crianças pode não ser apenas invenção.

A Maldição da Chorona é, acima de qualquer outra coisa, um filme extremamente escuro. Boa parte das cenas acontece na penumbra, e as tomadas externas são externas ou acontecem sob um céu nublado, reforçando o caráter sombrio de sua trama. Além de não ser uma escolha original, o resultado é alguma dificuldade para enxergar a ação em determinados momentos.

Estreando em longas-metragens, o diretor Michael Chaves (já contratado para comandar Invocação do Mal 3) tenta fugir do convencional, usando câmera na mão ocasionalmente e nas opções de enquadramento, que algumas vezes resultam em planos na diagonal, para reforçar um desequilíbrio entre as forças do bem e do mal que colidem.

Causa estranheza, contudo, o modus operandi da vilã, que tem diversas chances de aniquilar os pequenos Chris (Roman Christou) e Sam (Jaynee-Lynne Kinchen) e mesmo assim não vai até o fim, demonstrando uma piedade injustificável para um “bicho-papão”. Só para se ter uma ideia, há à disposição da vilã – cuja habilidade é afogar crianças – piscinas e banheiras cheias d’água, e mesmo assim ela hesita. Afinal, a trama tem que continuar.

Quando o clímax enfim chega, o destaque vai para o curandeiro Rafael e a interpretação impagável do ator Raymond Cruz, o Tuco de Breaking Bad e Better Call Saul. Ex-padre marrento e piadista mesmo nas horas de terror, não é de se surpreender que o personagem também ganhe seu derivado na sempre crescente franquia Invocação do Mal.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil