Crítica: A Melhor Escolha

Crítica: A Melhor Escolha

Três é demais

Não, o novo filme do diretor Richard Linklater (Escola de Rock e Boyhood – Da Infância à Juventude) não é um remake da série televisiva sobre uma família que vive em São Francisco. Mesmo assim, a palavra ‘demais’ serve perfeitamente para definir as atuações do trio: Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne em A Melhor Escolha, que narra o encontro dos três ex-fuzileiros navais quando um destes, Larry “Doc” (Steve Carell) precisa da ajuda dos outros dois, Sal (Bryan Cranston) e Richard (Laurence Fishburne), para trazer para casa o corpo de seu filho, morto no Iraque.

Richard Linklater conseguiu (merecidamente) grande notoriedade neste século. Além do feito em Boyhood – Da Infância à Juventude, filme com produção de doze anos de duração laureado com vários prêmios pelo mundo, e que fez parte em várias listas entre críticos internacionais (incluindo o topo da Sight & Sound, respeitadíssima revista britânica de cinema), Linklater também é autor da mais charmosa trilogia dos tempos recentes: os filmes Antes… (do Amanhecer; do Pôr do Sol; e da Meia-Noite), que contam a história do casal Jesse e Céline, que possuem muitos fãs ao redor do globo (este redator, incluso).

O diretor texano é superlativo tanto em seus roteiros (principalmente na área da interlocução entre personagens) quanto na direção de atores. Assim, também, em A Melhor Escolha. A trilha e fotografia são protocolares, não elevando o filme a patamares mais distintos, mas também sem roubar o filme suas maiores qualidades: diálogos e atuações.

Em A Melhor Escolha, Richard Linklater põe a prática uma comédia dramática (ou dramédia). Assim, dentro dos preceitos shakespearianos, mais facilmente reconhecidos na peça Macbeth, teremos alegria/tristeza e riso/sofrimento. Com a já reconhecida interlocução de boa qualidade, o roteiro transita entre situações leves e prazerosas (como a cena em que os três saem para comprar aparelhos de celular, ou quando contam velhas histórias de uma juventude vívida a momentos de agonia intensa), geralmente estas quando o foco está na personagem interpretada por Carell. Certamente, a maior defasagem no roteiro está no fato de não conseguir trazer novos elementos ao tema sobre veteranos da guerra.

Mesmo nessa receita requentada, de ingredientes muito familiares, temos a sorte de nos deliciarmos com três atores de maior gabarito. Aqui se encontra a maior qualidade do filme. O trio principal do elenco enche a tela do cinema com puro magnetismo e carisma. Steve Carell mais por vias dramáticas que cômicas – já Cranston e Fishburne, em uma interlocução inebriante de duas personagens em oposição, um bêbado e um pastor, respectivamente.

Vale elevar ainda mais dentro deste trio o trabalho de Bryan Cranston, cada vez mais solidificando-se como um dos mais regulares atores em Hollywood. Sem medo de ser ‘over’, ele faz escolhas de tratamento acertadas, focando mais em comportamentos relacionados ao alcoolismo do que trejeitos.

É certo que A Melhor Escolha não figurará na galeria dos grandes filmes pensando exclusivamente na filmografia de Richard Linklater. Mas se tiramos algo deste filme, é o fato de que Carell, Cranston e Fishburne dão mais do que conta do recado.

FICHA TÉCNICA
Título Original: Last Flag Flying
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater e Darryl Ponicsan
Produção: Amazon Studios; Big Indie Pictures; Detour Filmproduction
Fotografia: Shane F. Kelly
Edição: Sandra Adair
Gênero: Comédia dramática
País: Estados Unidos
Ano: 2017
Duração: 124 Minutos
Elenco: Steve Carell (Larry “Doc” Shepherd); Bryan Cranston (Sal Nealon); Laurence Fishburne (Richard Mueller); J. Quinton Johnson (Charlie Washington); Cicely Tyson (Sra. Hightower); Yul Vazquez (Coronel Willits).

Alexis Thunderduck