Crítica: Aladdin
Fantasia colorida
Apesar de ser uma versão com atores da animação clássica lançada em 1992, Aladdin nunca tenta soar realista. Esta escolha no tom é o grande acerto do filme, que investe na fantasia para justificar seu colorido de carnaval Bollywoodiano propositadamente exagerado e a presença de um gênio gigante azul, interpretado com carisma de sobra por Will Smith.
Smith, ainda em formato humano, é o primeiro personagem que aparece na tela, assumindo a postura de narrador – uma das poucas mudanças em relação à estrutura do original – e entoando ‘Arabian Nights’, uma das muitas canções icônicas da trilha sonora premiada com o Oscar, que ainda conta com o reforço da inédita ‘Speechless’, novo solo da Princesa Jasmine (Naomi Scott), composta por Benj Pasek e Justin Paul, dupla que trabalhou em La La Land e O Rei do Show.
Somos transportados então para a cidade portuária de Agrabah, onde o jovem Aladdin (Mena Massoud) vive sua rotina de pequenos roubos, até que um encontro com Jasmine muda sua vida. Sem saber da origem nobre da moça, que saiu do castelo disfarçada, ele se apaixona. O romance é interrompido de forma brusca quando o herói é capturado por Jafar (Marwan Kenzari), que o leva para uma caverna encantada, de onde quer tirar a lâmpada mágica.
A história do “diamante bruto”, alguém cuja grandeza de caráter em princípio está escondido por um contexto de luta pela sobrevivência, foi um fator decisivo para o diretor britânico Guy Ritchie ser escolhido para comandar o remake. Afinal, o cineasta já tinha transformado ícones lendários da cultura pop como Sherlock Holmes e Rei Arthur em sujeitos com um pé na malandragem das ruas e agora encontra oportunidade de seguir o mesmo caminho, embora saiba que há pouco espaço para ambiguidades morais numa superprodução voltada para a família.
Isso não quer dizer que os personagens de Aladdin sejam apenas bidimensionais. No fundo, tanto o protagonista quanto Jasmine vivem o conflito de se sentirem tão aprisionados quanto o Gênio da Lâmpada: ele no cotidiano pobre e solitário, ela lutando contra a superproteção do pai e a ideia de que suas vontades e ideias nunca são ouvidas. Até mesmo o vilão Jafar sofre com a condição de ser sempre relegado ao segundo posto na hierarquia do poder local.
Para qualquer um deles, a possibilidade de ter seus pedidos de uma realidade diferente atendidos num passe de mágica é irresistível. Mas o filme deixa claro que também existem formas mais possíveis de se alcançar este objetivo, quando alguém tem espaço para demonstrar o que há de melhor em sua personalidade.
Por falar em pedido atendido, vale destacar a participação de Will Smith, que consegue a proeza de dar seu toque pessoal a um dos personagens mais queridos de todo o universo Disney. Sem querer imitar a dublagem irretocável de Robin Williams na animação de quase três décadas atrás, o astro injeta um humor mais afável, que lembra suas estripulias na série O Rei do Pedaço, e humaniza uma figura que pelas primeiras imagens de divulgação parecia uma grande nuvem azul feita em computação gráfica.
Seu espírito brincalhão contamina a produção, que termina numa grande cena de dança e garante que todo mundo saia do cinema feliz.