Crítica: Até o Último Homem
Mel Gibson, que já se estabeleceu como um bom diretor de cinema trabalhando em filmes como Coração Valente (que lhe rendeu um Oscar de direção) e A Paixão de Cristo, retorna a este posto em Até o Último Homem, um filme excepcional que mostra a guerra em sua mais pura forma: cruel, desoladora e sangrenta. Mas, ao mesmo tempo, Gibson dá um toque de humanidade primordial para que sua história tome forma e se torne mais emocionante, dando espaço para contar a trajetória do jovem Desmond Doss (Andrew Garfield).
Mas quem foi Desmond Doss? Antes de mais nada, é preciso dizer que o filme é baseado em uma história real. Doss foi um médico do exército militar americano que atuou na Segunda Guerra Mundial e recusou-se a usar armas (nem mesmo tocar nelas) durante seu período em atividade. Para aquela época, um homem que recusa o armamento dado pelo Exército era algo inédito – e nada bem-vindo para a equipe de soldados e tenentes. Mas Doss, que vivia na Virgínia, tinha motivos de sobra para tomar esta atitude: além de ser muito religioso, ele havia crescido em um ambiente familiar complicado, já que seu pai, Tom (Hugo Weaving), também havia ido para a Guerra e não sabia lidar com o sofrimento e perdas que passou durante as batalhas. Sua decisão de se alistar para o Exército foi tomada quando percebeu que precisava ajudar sua nação, de uma maneira ou de outra. Quando consegue passar pelas regras do Exército, Desmond parte para a guerra desarmado e se instala em Okinawa, no Japão, para a Tomada de Hacksaw. E, surpreendentemente, salvou mais de 75 vidas na batalha, voltando para casa com várias condecorações e reconhecimento.
Até o Último Homem poderia ser apenas mais um filme de guerra, mas na verdade, encontra-se no mesmo patamar de filmes como O Resgate do Soldado Ryan (1998), Platoon (1986), A Conquista da Honra (2006) e Cartas de Iwo Jima (2006). Há duas histórias aqui: uma, que conta a história de Doss, e a outra, que se encontra no campo de batalha. São histórias distintas mas que se entrelaçam no final, pois a convicção de Doss e o que ele passou até chegar àquele momento é o que faz tudo acontecer. Ao conhecermos o passado do protagonista, com seus problemas e seu amor pela enfermeira Dorothy (Teresa Palmer), já temos um personagem tão humanizado que é impossível não sentir empatia quando a hora de lutar finalmente chega. Sentimos sua motivação e sua fé porque elas são tratadas de forma sincera, mas ao mesmo tempo não se tornam dogmáticas.
E quando a hora da batalha chega, vemos que Doss não está realmente preparado para tudo aquilo – e muito menos nós, espectadores. A primeira batalha, a de seguir para a guerra sem uma arma na mão, já havia sido vencida. Mas a verdadeira batalha, a de salvar vidas, era o que vinha pela frente. Mel Gibson mais uma vez expõe uma realidade assombrosa nas cenas de ação, que estão páreo a páreo com as cenas da tortura de Jesus em A Paixão de Cristo por serem tão impactantes. A primeira sequência (longa e avassaladora) em que o batalhão de Doss adentra em Hacksaw é simplesmente visceral. Tão profunda que você até esquece que está vendo apenas um filme. Você se sente naquelas trincheiras junto com Doss e seus companheiros, assim como sente cada tiro de canhão e explosão de granada que são expostas em tela. A facilidade de Gibson em demonstrar tais momentos com tanta rigidez e realidade é de se admirar. E é esse elemento que torna Até o Último Homem um dos melhores filmes de guerra já feitos, pois mesmo exibindo o verdadeiro inferno que a guerra é, ele também mostra, com a mesma rigidez e realidade, os feitos de um simples homem que enfrenta tudo isso e tira o melhor daquilo. Até mesmo no inferno, há vida.
Andrew Garfield é a força que move o filme. Mais amadurecido, com uma atuação séria e que emociona por ser tão expressiva, o ator prova que está no caminho certo em sua carreira e tem tudo para conquistar o Oscar no futuro. Atualmente, além deste filme, Garfield também protagonizou Silence, novo filme de Martin Scorsese, o que deixa mais clara a visão do rumo que o ator está tomando como profissional, com papéis mais sérios. Hugo Weaving também é uma grata surpresa como o pai de Desmond e traz muitos questionamentos e reflexões sobre como a guerra pode impactar a vida de um soldado. E como é difícil, para alguns, seguir em frente.
Até o Último Homem é uma história extraordinária, abordada de maneira extraordinária, que emociona, impacta e surpreende. Mel Gibson encontrou o tom perfeito para contar uma história não tão conhecida que aconteceu durante a 2ª Guerra Mundial, e acertou em cheio na abordagem, passando a mensagem de que um homem pode mudar a realidade de muitos. Aqui fica o pedido: Mel Gibson, dirija mais filmes!
FICHA TÉCNICA
Direção: Mel Gibson
Elenco: Andrew Garfield, Vince Vaughn, Hugo Weaving, Teresa Palmer, Sam Worthington, Luke Bracey
Roteiro: Robert Schenkkan e Andrew Knight
Diretor de fotografia: Simon Duggan
Duração: 2h20
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