Crítica: Bruxa de Blair

Crítica: Bruxa de Blair

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Desde sua revelação na última San Diego Comic Con, em Julho, Bruxa de Blair, até aquele instante conhecido pelo título The Woods, tornou-se um dos meus filmes mais esperados deste segundo semestre de 2016. Isso se deve a uma coisa: o longa foi concebido pelo diretor Adam Wingard e pelo roteirista Simon Barrett, colaboradores de longa-data, responsáveis por dois dos melhores filmes de gênero recentes, sendo estes o slasher de invasão domiciliar Você é o Próximo e o estiloso thriller vintage The Guest, que, incompreensivelmente, ainda não ganhou distribuição no Brasil (fica a dica, Netflix!). Além da surpresa e dos realizadores prestigiados, o filme já havia causado ótimas impressões no público presente em sua exibição na Comic-Con, sendo considerado então um filme incomumente assustador. Portanto, o hype apenas cresceu astronomicamente. Mas será que esta nova Bruxa de Blair faz jus à essa buzz toda, ou será que a calorosa recepção inicial se devia à surpresa de um novo longa na icônica franquia?

Pois bem: Bruxa de Blair entrega uma experiência cinematográfica extremamente tensa e em momentos inesquecivelmente assustadores. Mas primeiramente precisamos discutir o seguinte: seria esta realmente uma sequência plena, ou um remake glorificado, apesar de bastante competente e sofisticado? Já peço desculpas por todas as perguntas, mas esta é a sensação deixada pelo filme após o término de seu poderoso feitiço. O longa tem recebido no decorrer desta semana reações cada vez mais polarizadas dos críticos, sendo apreciado por uns e detestado por outros, justamente por uma principal razão, que seria a estrutura extremamente semelhante à de seu predecessor (o fenômeno homônimo de 1999, afinal este longa desconsidera a polêmica sequência Livro das Sombras, de 2000). Pensa-se que, ao mesmo tempo que a ideia de uma verdadeira sequência apenas catalise as expectativas dos fãs, garantindo o entusiasmo do público para ir aos cinemas, este hype só será mais prejudicial para quem espera uma gama variada de reinvenções e respostas, deixando uma estranha sensação de insatisfação ao fim. Talvez fosse melhor se mantivessem o excelente título original The Woods, afinal os bosques de Burkitsville são a verdadeira estrela da vez. Mas deixemos deste falatório e vamos direto ao que interessa: o filme!

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Com uma introdução intrigante e tenebrosa, Bruxa de Blair sustenta uma atmosfera opressora de maneira admirável. Começamos a acompanhar James (James Allen McCune), que após o surgimento deste novo material mostrado ao início, empenha-se a encontrar sua irmã Heather Donoghue, protagonista do longa original e desaparecida há duas décadas. O obstinado rapaz então reúne mais três amigos e parte em uma jornada documentada pelos misteriosos bosques de Burkitsville, procurando por respostas. No caminho, juntam-se a dois vloggers nativos da região, que dizem saber onde o novo material fora encontrado. O grupo então toma a fatal decisão de acampar e passar a noite no local e se veem dentro de um cruel e interminável jogo de gato e rato. Com câmeras acopladas a seus pontos de vista e até mesmo um drone, o único armamento dos jovens é a tecnologia.

E é com estes avanços tecnológicos que o diretor Adam Wingard faz sua festa, alternando freneticamente entre os pontos de vista de cada um, gerando desconforto sem apostar demais em amadorismos. Infelizmente, também, sente-se que estas atualizações poderiam ter tido um papel mais impactante e profundo na trama. Ainda assim, Wingard demonstra grande energia no estilo found-footage, qualidade que já era evidente em seus curtas para as duas antologias V/H/S. Além disso, consegue criar, com o apoio da fotografia faux doc de Robby Baumgartner, imagens realmente assombrosas, principalmente no impiedoso ato final.

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O elenco, por sua vez, não tem muito o que fazer além de expressar desespero e eventualmente ceder aos prantos, mas ainda assim entrega boas performances apesar das limitações. Ponto também vai para o fato de que não incorporam os típicos adolescentes estúpidos tanto vistos em filmes de terror, demonstrando certa engenhosidade na hora de buscar soluções, o que torna a floresta ainda mais ameaçadora em comparação. Infelizmente, ainda são figuras unidimensionais, algo que alguns exemplares do cinema found-footage já haviam tentado enriquecer (vide os ótimos Creep e A Visita).

Bruxa de Blair é um filme dificílimo de avaliar, pois depende muito do que você, o espectador, procura numa experiência como esta. Há uma insistência teimosa em sonoros sustos falsos, o segundo ato se torna arrastado e a trama não aprofunda muitos de seus aspectos mais interessantes (o Blair original existe em seu cânone como um documento real, então não seria mais lógico se James o seguisse mais a risca?). Mas ainda assim é um longa que funciona em diversos aspectos e garante, pelo menos em seus últimos 20 minutos, horror de primeiríssima qualidade. Mais impressionante ainda: senti-me fomentado a elaborar teorias diversas sobre o que aconteceu em seu decorrer, afinal há referências e alegorias ao cânone o bastante para animar os fãs mais dedicados (há até claras homenagens visuais ao original, como o plano estendido do carro que se distancia). Claro, não é mais aquele paraíso de ambiguidade e creepypastas, mas os tempos são outros…

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Assim como o reboot/remake/sequência/sei-lá-o-que de 2013 A Morte do Demônio, Bruxa de Blair é a exploração de um conceito já conhecido, uma história já contada, porém com aquele quê de carinho e competência que garantem certo respeito em meio a um subgênero já tão estagnado, desta vez o found-footage. Trata-se, sem dúvidas, da melhor decepção do ano.

(Pequena reflexão: em um dos materiais de divulgação encontrados na página oficial do filme, são usadas fotos reais de Elly Kedward, mulher acusada de bruxaria no século 18 e desde então conhecida como a verdadeira Bruxa de Blair. Considerando que tais acusações eram mais que comuns naquela época e resultaram em execuções supersticiosas de diversas mulheres inocentes, tal decisão de marketing soa bastante insensível).


Trailer

FICHA TÉCNICA
Direção: Adam Wingard
Roteiro: Simon Barrett
Elenco: James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Valorie Curry, Wes Robinson
Produção: Jess Calder, Keith Calder, Roy Lee, Steven Schneider
Fotografia: Robby Baumgartner
Montagem: Louis Cioffi
Trilha Sonora: Adam Wingard
Duração: 90 min
Gênero:  Terror / Suspense

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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