Crítica: Carnívoras

Crítica: Carnívoras

Rivalidade entre irmãs atrizes vira suspense em filme dirigido por irmãos atores

Imagem do filme 'Carnívoras'

Há tanta metalinguagem envolvida em Carnívoras que é bom não se perder. O filme francês é a estreia na direção dos atores Jérémie e Yannick Renier. O primeiro, apesar de mais novo, alcançou o sucesso por protagonizar longas de cineastas consagrados como os Irmãos Dardenne e François Ozon (incluindo o recente O Amante Duplo, no qual interpreta gêmeos). Já Yannick nunca teve o mesmo destaque.

O caso das personagens que criaram é parecido. Samia (Zita Hanrot) é uma atriz famosa, enquanto Mona (Leïla Bekhti) ainda luta para conquistar papéis no mercado publicitário. Como se não bastasse a diferença entre os estágios de carreiras na qual as as duas se encontram, o roteiro adiciona elementos que aumentam este contraste de forma nada sutil: Samia é extrovertida, tem temperamento intempestivo, é mãe e esposa. Mona veste sempre roupas comportadas, seu comportamento é racional e pudico. Duas representações estereotipadas de figuras femininas, portanto.

Se Mona vive à sua sombra de sua irmã, Samia também tira vantagem disso, tornando-lhe uma espécie de empregada, babá e assistente pessoal. A passividade de Mona permite que isto aconteça, até que um evento traumático muda as coisas.

“A vítima pode às vezes ser mais manipuladora do que seu carrasco”, diz uma das personagens em dado momento. Alçada pela primeira vez ao posto de protagonista de sua vida, Mona passa a tomar atitudes moralmente questionáveis, fazendo com que a trama de Carnívoras cresça em suspense, atingindo seu ápice no ato final.

Jérémie e Yannick Renier compreendem a relação intrinsicamente ambígua entre dois irmãos, normalmente marcada ao mesmo tempo por intimidade extrema e alguma rivalidade, já que são nossos principais alvos de comparação ao longo da vida. Este conflito psicológico é incorporado por Leïla em sua atuação, que usa a introspecção de sua personagem como trunfo para parecer eternamente em crise com suas decisões.

Infelizmente, o roteiro resolve as coisas de forma apressada demais, antes que qualquer leitura mais aprofundada possa ser feita. Ainda assim, se encarado como um pequeno conto de contornos sombrios, o filme entretém.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil