Crítica: Círculo de Fogo – A Revolta
Sequência do filme de Del Toro falha em se distinguir entre blockbusters
Hollywood já encontrou sua fórmula segura para blockbusters faz um tempo. Enredos previsíveis, tentativas de humor, sons altos e prédios caindo aos montes. Alguns desses filmes realmente divertem e conseguem, ocasionalmente, trazer elementos novos à fórmula, diferenciando-se da maioria. Círculo de Fogo – A Revolta infelizmente não se destaca dessa maioria.
Sequência do filme de 2013 dirigido pelo vencedor do Oscar Guillermo Del Toro, A Revolta apresenta ao público o mesmo mundo estabelecido no primeiro, anos depois. O papel do protagonista fica por conta de Jake Pentecost (John Boyega), filho do lendário Stacker Pentecost (Idris Elba, em flashbacks), que se sacrificou para salvar a humanidade de um ataque de kaijus (aka monstros gigantes). Jake é então recrutado para treinar novos pilotos de Jaegers, robôs gigantescos construídos para combater os kaijus.
A trama então se complica da maneira usualmente vista em uma sequência. Como os monstros eram enviados à Terra por uma raça alienígena no longa anterior, aqui a ameaça principal leva um tempo até ser identificada. O mistério inicial que vem disso até é promissor, mas como se vê nos trailers, o esperado é o mesmo de antes: porradaria entre robôs e monstros (e robôs contra robôs também). O problema não está exatamente nessa previsibilidade, mas na pífia execução das ditas reviravoltas e núcleos narrativos no roteiro escrito por QUATRO pessoas.
Enquanto John Boyega tenta seu máximo para dar algum carisma a Jake, o mesmo personagem carece de uma personalidade que o destaque. O mesmo pode ser dito da novata Cailee Spaeny como Amara Namani, que perdeu a família em um ataque kaiju e encontrou sua sobrevivência na manufatura de robôs mais rudimentares, história que toma pouquíssimo tempo em tela para ressoar. Enquanto isso, o núcleo envolvendo Burn Gorman, Charlie Day e Tian Jing toma rumos bizarramente executados, com Day e Gorman falhando nos momentos de alívio cômico, e por fim os cadetes são nada mais que rostinhos bonitos que soltam um clichê após o outro.
O diretor Steven S. De Knight então faz sua graduação da TV (Spartacus) para o cinema com um trabalho que não fede e nem cheira. O cineasta claramente busca emular o mesmo estilo do primeiro Círculo de Fogo, mas diferente de Del Toro, faz um mau-aproveitamento de seus altos valores de produção, nunca entregando cenas ou locações que realmente saltem aos olhos. As lutas, francamente, são pelo menos compreensíveis e tem alguma criatividade em sua execução. Ainda assim há uma forte atmosfera televisiva vista em A Revolta, gerando uma dissonância entre os grandes momentos de ação e todo o resto pedestre.
Algo que poderia ter salvo parte de A Revolta são os visuais, mas até eles falham em se distinguir do grosso do cinema blockbuster atual. A fotografia de Dan Mindel, dos mais recentes Star Trek, aposta nos mesmos ângulos inclinados e paletas enjoativas vistos em um filme de Michael Bay, enquanto os efeitos digitais são apenas agradáveis quando deviam mesmo impressionar. Ver os robôs e monstros em ação pode de certa forma entreter, mas quando essas imagens e sequências não gritam aos olhos, é um sinal de que faltou algum refinamento. Vale notar também que a opção 3D não se justifica, pois não há um uso inspirado da estereoscopia (e isso se deve a mais um trabalho de conversão preguiçoso).
Caso não se importe com mais um blockbuster que não exceda os padrões médios, Círculo de Fogo – A Revolta pode ser um passatempo eficiente, embora não chegue aos pés de um Kong: A Ilha da Caveira ou até Godzilla (2014). No entanto, em uma época em que ir ao cinema está mais caro que nunca (principalmente 3D e IMAX), deve-se ponderar se um filme como esse não valeria mais a pena ser visto em casa, na companhia de amigos e cervejas e com a possibilidade de trocá-lo por algo melhor.
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