Crítica: Death Note, da Netflix, é uma tragédia em todos os sentidos

Crítica: Death Note, da Netflix, é uma tragédia em todos os sentidos

Antes de começar, quero lembrar que vim ao Cinematecando em defesa da adaptação americana de Death Note enquanto todos demonizavam o trailer há alguns meses. Na nota (que você pode ler clicando aqui), disse que whitewashing não era um problema, que apostar em uma história completamente nova poderia resultar em algo legal, e que o anime continuaria válido caso o filme fosse um fracasso. E, infelizmente, a imagem de Death Note, um anime tão emblemático da década passada, ficará manchada entre aqueles que esperaram pelo filme para conhecer a obra.

Me considero um crítico bonzinho na maioria das vezes, tentando salientar os pontos positivos, mesmo que isso não faça o leitor procurar pelo filme. Mas a adaptação de Death Note é uma tragédia em todos os sentidos. Um roteiro mal escrito aliado a atuações horríveis e uma direção péssima. Talvez o diretor de fotografia mereça um tapinha nas costas, mesmo que seu trabalho não tenha sido exemplar.

Light Turner (Nat Wolff) é totalmente diferente do Yagami Light que conhecemos. No mangá, e consequentemente no anime, o leitor chega a comprar a briga do personagem principal nos primeiros episódios. Um lance meio Breaking Bad… Mas é IMPOSSÍVEL entender as motivações de Light Turner. E o roteiro, muito conveniente por sinal, tenta mostrar uma aflição pela perda da mãe em um assassinato ao qual o bandido saiu impune. Francamente, é digno de chamar o espectador de idiota.


E pode piorar? Sim, porque na versão americana de Death Note, Kira é um CASAL. É absurdo, eu sei. E prepare-se para ver a personagem Mia Sutton (Margaret Qualley), que além de insuportável, parece não ter qualquer lastro que justifique suas atitudes sádicas. Na versão original, Yagami Light demora para se tornar uma pessoa má. Isso ocorre progressivamente, enquanto o garoto utiliza o Death Note por várias semanas para ganhar o status de um Deus.

E o problema não está em adaptar um anime de 37 episódios para um filme, pois a versão live-action japonesa lançada em 2006 consegue fazer isso com esmero. Não que o filme seja um primor, mas quando comparamos com a releitura do Netflix a comparação acaba virando um massacre. A cena do clímax na roda gigante, por exemplo, beira o RIDÍCULO (sim, em caixa alta). Lembra da polêmica cena em que o ditador norte-coreano Kim Jong-Un morre na comédia A Entrevista ao som de uma versão acústica de Firework, da Katy Perry? Pois é, o filme de Death Note consegue reproduzir isso e deixar pior.


A versão japonesa de 2006 também toma um pequeno espaço de tempo para discutir a ética por trás dos atos de Kira. E a discussão pode se estender para fora da ficção. Quantas vezes você já não acessou uma notícia do G1 sobre qualquer ato de violência e viu comentários como “bandido bom é bandido morto”, ou “todo bandido é vítima do sistema e da sociedade!”. Independente do que você acha, Death Note consegue levar o debate para esse lado, mas a adaptação americana é tão mal escrita que não chega a encostar no assunto.

Se você já é fã do anime clássico, vai passar raiva com o filme. E, caso ainda não tenha visto o anime, recomendo que também não assista a este filme. Pode acabar com qualquer interesse posterior. Death Note entra para o hall das adaptações mais deploráveis que já assisti e merece cair no esquecimento.

Cauê Lira

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