Crítica: Desobediência
Há poucos filmes que retratam certos temas como LGBTQ+ e o universo feminino de forma clara e correta. De uns tempos para cá fomos agraciados com obras de representações positivas, como em Mulher-Maravilha, Pantera Negra, Uma Mulher Fantástica; e agora, temos Desobediência.
Adaptado do livro de Naomi Alderman, o longa nos conta a história de Ronit (Rachel Weisz), que retorna para a comunidade judaica ortodoxa da qual foi expulsa após receber notícias sobre a morte do pai. Lá ela reencontra Esti (Rachel McAdams), a amiga de infância com a qual teve uma relação. O reencontro reacende a paixão de ambas enquanto elas exploram os limites da fé e da sexualidade.
Desobediência poderia ser apenas mais um filme que retrata homossexualidade e religião levianamente, mas vai além. A obra aborda tais temas com um roteiro coerente, claro, de diálogos excepcionais (possuindo alívio cômico com ‘perfect timing’), e deixa o público entender bem o que os personagens estão sentindo ou pensando. Muito bem representada pelos protagonistas também é a dinâmica entre Weisz, McAdams e Alessandro Nivola. A química que eles possuem envolve e te traz para dentro da história, chegando até a surpreender pela forma inesperada como tudo se conclui.
O roteiro ficou sob as mãos do diretor chileno Sebastián Lelio, de Uma Mulher Fantástica (escolhido pela própria Rachel Weisz, que também participou da produção), para evitar o male gazing – olhar masculino. Principalmente na cena de sexo, que é um fator que chama a atenção (alô, Azul É a Cor Mais Quente, estou falando com você!), vemos um sexo real, bonito, que não foi feito para o fetiche masculino. É a personagem se descobrindo, se libertando. Na verdade, a obra não é sobre sexo, mas sobre a sexualidade em si. Lelio e Weizs tiveram cuidado extra para que tudo fosse especial e retratado de forma positiva.
O filme inteiro é sobre uma das personagens tentando se libertar. Destaque para a atuação de Rachel McAdams, que é uma entrega e não espantaria a ideia de ser indicada a algum prêmio, pois seria merecidíssimo!
Como citado no filme, “antes de tudo, somos livres”. A fotografia de Danny Cohen acompanha muito bem os momentos até esta libertação, e um dos fatores que também chama atenção é a paleta de tons frios, cores primárias para um leve tom quente e alaranjado de forma muito sutil, que deixam o filme mais intrigante. Acompanhado de uma trilha sonora incrível de Matthew Herbert (que inclui clássicos como Lovesong, de The Cure), estes elementos fazem com que o cenário como um todo seja inexplicável, trazendo facilmente o sentimento de saudosismo.
Desobediência é uma obra prima da sétima arte por ser representativo, belo e único. O amor é um ato de desafio, sim, e nos tempos que vivemos, é extremamente necessário.