Crítica: Ella e John

Novo filme de Paolo Virzì possui ótica sensível ao abordar casal na terceira idade

Um trailer. Um casal. Uma viagem. Não é preciso muito para formar um filme agradável de se assistir. Ella e John é este tipo de filme que entra na categoria de “road movie”, mas não só isso: ele também é um filme extremamente sensível e até mesmo doloroso. Apesar do amor ser a base da narrativa, as dificuldades encontradas na terceira idade também fazem parte do conjunto. Cabe a Helen Mirren e Donald Sutherland dosarem as nuances do casal protagonista.

Felizmente (e como o esperado), a dupla faz isso muito bem. Os atores veteranos possuem uma química inquestionável e, assim como em Nossas Noites (filme de 2017 com Robert Redford e Jane Fonda), somos impactados pela quantidade de sentimento nutrido pelo casal. Ella (Mirren) toma coragem o suficiente para ligar o velho trailer da família (batizado The Leisure Seeker) e viajar pelos Estados Unidos com seu marido John (Sutherland), debilitado pelo Alzheimer. Na tentativa de se aventurar ao lado de seu amado, Ella se rebela de seus próprios filhos.

O filme de Paolo Virzì é delicado o suficiente para sentirmos empatia pelo casal logo de início. As atuações de Sutherland e Mirren são naturais e, por isso, o impacto nas cenas mais dramáticas pode ser sentido sem muitas dificuldades. Durante a viagem, eles protagonizam momentos de alegria, tristeza e preocupação, mas sobretudo de companheirismo e amor, juntamente às boas lembranças. Lembranças essas que Ella procura se agarrar a todo o momento para que continuem sendo a base de John – mesmo quando ele as esqueça por um tempo. O “caçador de lazer” é o melhor amigo dos protagonistas, e também seu maior refúgio.

Ella e John é sincero e envolvente. Sua estrutura – ora cômica, ora dramática – é bem dosada de modo que, no fim, fiquemos apenas com a sensação de que vimos um feel good movie apesar das pitadas de dura realidade que ele entrega.