Crítica: Em Busca de Fellini
Quando a vida nos entrega altas doses de realidade, por que não mergulhar no mundo do cinema para esquecer dos problemas? Ou, especialmente, na cinematografia de Federico Fellini? Muitos cinéfilos fazem isso com diversos diretores, mas é em Fellini que Lucy (Ksenia Solo), garota de 20 anos que nunca namorou ou trabalhou, encontra seu refúgio.
Inspirado na obra de um dos maiores diretores italianos e também um dos responsáveis pelo Neorrealismo Italiano, o longa de Taron Lexton narra a aventura de autoconhecimento de Lucy, que, ao viajar sozinha para a Itália em busca de seu cineasta favorito, acaba conhecendo muito do que jamais havia imaginado viver. É interessante ressaltar que Em Busca de Fellini também é baseado na vida de Nancy Cartwright, que realmente viajou à Itália para tentar conhecer seu ídolo. Portanto, é bonito notar a delicadeza e inserção de cenas claramente fantasiosas misturando-se com a realidade.
Ao crescer assistindo filmes antigos com sua mãe, Lucy não viveu como a maioria das crianças ou jovens. Como em uma bolha, a protagonista nunca se arriscou a fazer nada de desafiador e muito menos enfrentou seus medos. Na verdade, Lucy não se conhece por completo. Foi preciso que sua mãe finalmente a deixasse sair de um mundo imaginário para que a jovem pudesse ver com seus próprios olhos o que a vida realmente é: não há cores e nem alegria o tempo todo, mas qual o motivo para temer a realidade? Não por acaso, em sua primeira noite de aventuras Lucy entra em um cinema e assiste A Estrada da Vida, de Fellini. O fascínio é instantâneo e logo a jovem se vê com a necessidade de viajar – mentalmente e fisicamente.
Ingênua e de bom coração, Lucy vai até a Itália e percorre por locais muito conhecidos, o que torna o filme uma obra visualmente linda e delicada (assim como sua protagonista). A fotografia é um dos melhores elementos pois mescla bem a paleta de cores dos ambientes e situações, de maneira com que elas conversem com os sentimentos da jovem. É fácil nos sentirmos dentro da mente de Lucy, que mistura a realidade com fragmentos que mais lhe marcaram na obra do cineasta.
Para aqueles que não estão familiarizados com a obra do italiano, nem é preciso dizer que faltará o timing para muitas referências apresentadas. Não só A Estrada da Vida como também A Doce Vida e 8 ¹/² permeiam diversas cenas e são essenciais para entendermos pelo o que Lucy está passando, o que torna a experiência muito agradável se quem está assistindo é fã do cineasta.
Porém, Em Busca de Fellini perde um pouco de sua força ao tentar ser um conto de fadas moderno, inserindo cenas que não funcionam devido a uma montagem confusa em alguns momentos. A mensagem que o filme passa de fato é muito bonita, mas por querer inserir emoção demais, a mesma acabou – ironicamente – não encontrando seu devido lugar. Ksenia Solo interpreta a personagem principal de maneira limitada, mas não deixa de esbanjar a simpatia necessária nos momentos primordiais.
Em Busca de Fellini encanta e emociona por expor a magia do cinema em meio ao que é trivial. Afinal, todos nós precisamos ser um pouco como Lucy às vezes, encarando a vida como se fosse um filme. Em doses moderadas, isso pode fazer com que a jornada seja realmente mais colorida e emocionante.
O filme estreia em 7 de dezembro nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Cotia, Curitiba, Florianópolis, Maceió, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Taron Lexton
Roteiristas: Nancy Cartwright e Peter Kjenaas
Produtores: Peter Kjenaas, Nancy Cartwright, Monica Gil, Nathan Lorch, Milena Ferreira, Taron Lexton e Michael Doven
Duração: 103 minutos
Ano: 2017
Países: EUA/Itália
Classificação indicativa: 14 anos