Crítica: Girlboss (1ª temporada)

Crítica: Girlboss (1ª temporada)

Séries que realçam o empoderamento feminino e a representação da mulher são sempre bem vistas pelo público em geral. Felizmente, Girlboss não fugiu desse padrão. Se a série fosse apenas sobre isso não seria tão original, e logo repetitiva, mas a história de vida de Sophia Amoruso (responsável pelos fatos reais da protagonista) abrange vários assuntos muito bem abordados por Kay Cannon, a criadora e uma das produtoras e roteiristas da série, rendendo boas risadas e fortes emoções.

Ambientado nos anos 2000, o enredo da comédia (produzida por Charlize Theron) se inicia apresentando a personagem Sophia Marlowe (Britt Robertson), uma adulta desajustada que odeia tudo e todos do mundo adulto, mas que, após ser demitida, decide transformar sua paixão (moda) em negócio. Ela passa a vender roupas usadas na internet e começa a aprender a comandar seu negócio, embora ainda seja muito egoísta e irresponsável. O roteiro acerta em cheio ao caracterizar Sophia com seus altos e baixos e expôr as razões de suas atitudes e pensamentos de maneira clara, a ponto de se tornar compreensível e aceitável (senão identificável) para o expectador. Sophia se torna talvez uma das protagonistas mais peculiares que a televisão já teve em mãos, podendo ser odiada pelo público pela sua arrogância, e ao mesmo tempo amada por demonstrar os sentimentos mais profundos da mentalidade de uma adolescente em crise. Muitos (como eu) se identificam com as preocupações e opiniões da personagem, que é perfeitamente interpretada pela ótima atriz Britt Robertson, que mesmo morena (algo raro), parece ter encontrado um papel que foi feito exclusivamente para si.

Os personagens secundários garantem um interesse considerável de uma série em sua temporada de estreia, mesmo que não contenham um individualismo latente como a série 13 Reasons Why. Mas cada personalidade entretém o público ou ao menos auxilia na construção da personagem principal, que se vê ora perdida em seus conflitos, e ora otimista com seu negócio online. É importante que qualquer filme ou série encontre seu público alvo, e infelizmente isso fica difícil no caso de Girlboss, que pode ser facilmente descartada pelo público se este considerar a hipótese de um conteúdo inteiramente elaborado em cima dos negócios.

O trailer da série pode enganar muito o expectador (provando mais uma vez a relevância da crítica), pois ele sugere que a série é inteiramente focada nas vendas de Sophie, algo que é contrariado pelo aprofundamento emocional visto logo nos primeiros episódios, que se estendem até os últimos minutos do seriado. Além da própria Sophie, alguns personagens que ajudam a acender a sensibilidade do público são Annie (Ellie Reed) e Shane (Johnny Simmons), muito bem apresentados pelo roteiro da série e que, quando ocupam uma cena, trazem charme e graciosidade para as telas.

Não é somente ao caracterizar seus personagens que o roteiro vai bem. Há diversas cenas profundas em que a narrativa joga elementos sonoros ou físicos já mostrados anteriormente que realmente percebemos o quanto a história é bem conectada, sem precisar exagerar nas falas, controlando bem a expositividade (ainda que os diálogos sejam super envolventes). A direção é igualmente especial, trazendo planos aprazíveis e movimentos de câmera deliciosos que junto com a fotografia de cores quentes se derretem aos olhos do público. Impossível ignorar a bela trilha sonora da série, havendo uma variedade de ritmos interessantíssima, com músicas bastante contagiantes, que forçará o expectador a ligar o Shazam em seus celulares para descobrir o nome dessas canções tão marcantes.

Girlboss é uma comédia sobre autoconhecimento, respeito, amizade, felicidade, e principalmente amadurecimento. Britt Robertson mostra seu talento incrível ao conseguir prender a atenção do público durante os episódios que duram menos de 30 minutos cada. É claramente uma série gostosa de assistir, bonita em todos os sentidos, tanto tecnicamente quanto tematicamente. O drama ainda permeia as bordas do enredo, e criam reflexões em seus expectadores, que apenas aguardam um momento ou outro para rir e se emocionar. O roteiro ainda prova sua qualidade ao efetuar caminhos originais, que se resolvem a partir de discussões e problemas afetivos. Aparentemente, a Netflix saiu mais uma vez vitoriosa em suas produções originais. Torçamos para que essa festa continue.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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