Crítica: Jurassic World – Reino Ameaçado
Franquia atinge seu ponto baixo com trama equivocada e pouca tensão
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, de 2015, não foi exatamente o melhor dos recomeços para a franquia Jurassic Park, que partiu de um livro de Michael Crichton (Westworld). Também não foi o pior dos casos, pois ainda contava com momentos divertidos e, mais significantemente, foi um estrondoso sucesso de bilheterias ao redor do globo. Muitos de seus pontos baixos, no entanto, eram e ainda são atribuídos à escalação do (até aquele momento) novato Colin Trevorrow, que não muito tempo atrás foi desvinculado da direção e do roteiro de Star Wars – Episódio IX.
Mesmo com as críticas direcionadas a Trevorrow, o mesmo se manteve atrelado à franquia Jurassic Park, mas nas cadeiras de produtor e roteirista, dando apenas lugar ao espanhol Juan Antonio Bayona no ofício da direção neste Jurassic World: Reino Ameaçado. Infelizmente, apesar da presença de um cineasta mais articulado e renomado no leme, esta sequência acaba sendo vítima de diversos problemas – muitos dos quais vem de onde? Exatamente: o roteiro assinado por Colin Trevorrow, que novamente escreve em parceria com Derek Connolly.
Reino Ameaçado tem um início promissor, embora previsível. Somos reapresentados ao parque na Ilha Nublar, agora um ambiente lúgubre, numa sequência suficientemente atmosférica. Porém essa sequência acaba e é sucedida por, é claro, diversos momentos dispensáveis de exposição narrativa. Desta vez, o parque fechado do longa anterior agora está sob a ameaça de um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento, e cabe a Owen (Chris Pratt) e Claire (Bryce Dallas-Howard) salvarem os dinos da re-extinção. No entanto, nenhuma urgência é sentida, e quando o cataclismo de fato acontece, a tensão se esvai rapidamente em meio a uma cacofonia de ideias ruins.
O longa tem boa parte de seu tempo dedicada ao desenvolvimento de subtramas e personagens que, quando não são clichês, são muito mal-calculados. Justice Smith (da divertida série The Get Down) se destaca negativamente na posição de alívio cômico e Rafe Spall tem pouco a fazer como o empresário que pode ou não ter segundas intenções ao financiar o resgate dos dinos na ilha – só adivinhem. Há um outro mistério, construído desde o início, que se encaixaria melhor em um longa da franquia Resident Evil e cuja resposta reforça a impressão de que Trevorrow e Connolly passaram por uma espécie de falência criativa. É preocupante constatar que, mesmo em meio à atual seca criativa de blockbusters, o roteiro de Reino Ameaçado consegue a proeza de se destacar por inúmeras falhas e más escolhas.
Guiando-se pelo roteiro equivocado, o diretor Bayona por sua vez se esforça mas não consegue salvar o conjunto das partes, que carece do suspense e da inteligência vistos em seus trabalhos autorais. Apesar de entregar um produto plasticamente impressionante, com o apoio da fotografia do parceiro Oscar Faura e do vasto time de efeitos especiais, o cineasta não tem a chance de trabalhar com situações realmente marcantes, mantendo-se preso às ideias pobres de Trevorrow e Connolly. Até mesmo O Mundo Perdido, capítulo bastante criticado de Jurassic Park, continha momentos excepcionais de suspense sob a condução mais experiente de Steven Spielberg, que surpreendentemente deu seu aval à acomodada visão proposta pela dupla de roteiristas.
Caso Colin Trevorrow e Derek Connolly priorizassem mais da sensação de maravilhamento dos originais e não apenas o sucesso financeiro da franquia, Jurassic World: Reino Ameaçado poderia ter se destacado em um ano (até então) morno. No entanto, a sensação que prevalece é a de que podíamos ter pulado esse capítulo inteiramente e mergulhado de vez nas promissoras mudanças que chegam com sua conclusão – ao menos um acerto dos roteiristas! Com altas projeções de bilheteria, a franquia pode não estar ameaçada, mas sua magia está bem próxima de ser extinta.