Crítica: Oito Mulheres e um Segredo

Crítica: Oito Mulheres e um Segredo

Sandra Bullock, Cate Blanchett e cia. brilham em um eficiente filme de assalto

Imagem de Oito Mulheres e um Segredo

O filme de assalto é há muito tempo um dos subgêneros que Hollywood mais ama. Dentro dele, a principal (e talvez única) franquia é aquela iniciada por Onze Homens e um Segredo, de Steven Soderbergh. Com a trilogia estrelada por George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon já encerrada, era hora de vermos outro roubo complexo através de uma perspectiva feminina. Assim surgiu Oito Mulheres e um Segredo, dirigido por Gary Ross (Pleasantville) e roteirizado por Ross e Olivia Milch (do filme Dude).

Esta é a história de Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Danny (Clooney), que é liberada da prisão e não hesita em botar um plano em ação para roubar valiosas joias e convenientemente se vingar de seu antigo parceiro Claude (Richard Armitage), que a traiu no passado. Para isso, ela precisará de boa companhia – e como é boa! Lou (Cate Blanchett) é uma contrabandista cheia de charme; Rose (Helena Bonham-Carter) é uma estilista em decadência que precisa de dinheiro; Tammy (Sarah Paulson) é uma dona de casa com um passado no crime; e Amita (Mindy Kailing), Constance (Awkwafina) e Nine Ball (Rihanna) completam a trupe de ladras com suas especialidades únicas. O plano, a princípio, é roubar um caríssimo colar durante o luxuoso MET Gala.

Seguindo a cartilha estabelecida pelos filmes de Soderbergh, Ross aposta em uma direção de cena despojada que deixa fluir o carisma de seu elenco, que é sem dúvidas uma das maiores qualidades do longa. O bando também não demora a se reunir, com cada integrante apresentada pelo roteiro de maneira direta e espirituosa. O grande plano, o antagonista e as complicações também são construídos com objetividade, deixando apenas alguns detalhes em segredo (como já se espera da franquia). Adequando-se ao despojo de sua construção, a montagem de Juliette Welfling costura as diversas situações com competência, sem se perder nas minúcias do elaborado roubo mas ainda deixando o bastante para que o espectador não se sinta bobo em relação às peripécias das personagens (no entanto, devo dizer que os efeitos de transição deixam a desejar e são um tanto desnecessários).

O que faz Oito Mulheres e um Segredo é, ainda assim, seu elenco – ou ao menos boa parte dele. Sandra Bullock faz o papel de manda-chuva charmosa parecer fácil, após anos esbanjando seu carisma habitual. Cate Blanchett, por sua vez, é a It Girl da turma, com uma atitude rebelde que se reflete em seus figurinos e participação na trama. Vale dizer que há uma bem-vinda tensão (sexual, talvez?) entre as personagens de Bullock e Blanchett, e a segunda deve ser a favorita de muitos quando o longa estrear. Já Sarah Paulson e Helena Bonham-Carter marcam presença como bem sabem fazer, enquanto Mindy Kailing tem alguns momentos carismáticos. Awkwafina e Rihanna, por sua vez, são atrizes mais limitadas mas que nunca chegam a comprometer, encaixando-se bem com o resto. Fechando o elenco de mulheres, Anne Hathaway faz uma espécie de sátira de sua imagem de patricinha ao encarnar uma rica socialite, cuja participação na trama pode ter sido entregue já no título.

Por mais que as circunstâncias do roubo sejam devidamente extravagantes, ainda fica a impressão de que faltou alguma coisa. Talvez sejam as poucas referências aos filmes anteriores; talvez também sejam as poucas viradas da trama, visto que a franquia é reconhecida pela engenhosidade exagerada da ação; talvez seja a conclusão bastante simples. Ou talvez a fórmula aperfeiçoada por Soderbergh já tenha perdido seu aspecto de novidade, perda que se reflete na trilha de Daniel Pemberton (A Grande Jogada, outro filme sobre criminosas de colarinho branco), que emula as composições de David Holmes em Onze, Doze e Treze Homens com competência mas sem acrescentar algo de novo.

Contudo, Oito Mulheres e um Segredo faz o que promete: entregar um divertido filme de assalto encabeçado por um elenco feminino estrelado. O carisma das principais integrantes torna a experiência agradável a qualquer um, e a competência da equipe por trás das câmeras ajuda a criar um pacote coeso, sem grandes erros ou tropeços, que deixará satisfeito o espectador à procura de uma diversão despretensiosa e, é claro, luxuosa.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.