Crítica: Life – Um Retrato de James Dean
Para um filme cujo título original é Life, este novo projeto do diretor Anton Corbijn peca justamente por sua abordagem distanciada. Ainda assim, há algumas boas razões para conferir o longa. Lançado no Brasil com o subtítuloUm Retrato de James Dean, a obra pode falhar em atingir seu potencial, mas apresenta diversos elementos de qualidade também.
No enredo, seguimos o cotidiano de Dennis Stock (interpretado pelo cada vez mais articulado Robert Pattinson), fotógrafo para a revista Life, vivendo suas noites em Hollywood e atendendo a festas repletas de celebridades, tais como Nicholas Ray e Natalie Wood. Em uma destas festas, conhece o ainda desconhecido James Dean (o excelente Dane DeHaan) e, após uma curta conversa, cria-se uma ligação imediata entre os dois. Dennis então propõe, após uma série de tentativas frustradas, um ensaio menos glamouroso e com mais crueza para James. Os dois então embarcam em uma série de pequenas viagens e fortalecem sua conexão, o que se torna motivo de grandes reflexões interiores para a dupla.
Desenvolve-se também, mesmo que de maneira secundária, o dia-a-dia de James Dean como uma jovem estrela em ascensão. Um pequeno caso com uma jovem atriz, as coletivas de imprensa, as reuniões com o diretor de estúdio Jack Warner (Ben Kingsley, provando mais uma vez que consegue roubar suas cenas em um estalar de dedos). O foco do filme, ainda assim, é a breve jornada de Dean e Stock, especulando o que ocorreu nas lacunas de tempo entre as icônicas fotografias publicadas no ano de 1955.
Apesar da excelente premissa e da própria experiência do diretor Corbijn como um fotógrafo de grandes ícones, a obra parece vazia. Esperava-se tanto um retrato matizado de uma jovem celebridade quanto uma documentação detalhada do trabalho, tanto mecânico quanto artístico, de um fotógrafo como Stock. A fotografia de Charlotte Bruus Christensen (que é uma possível candidata ao Oscar pelo esperado thriller A Garota no Trem) e a trilha de Owen Pallett (ex-colaborador da banda Arcade Fire) são ambas ótimas, evocando uma elegância a par dos melhores trabalhos de seu realizador. O principal problema, ao que parece, é o roteiro de Luke Davies (Candy), que, mesmo providenciando alguns belos momentos, carece de uma direção mais clara e também não toma muitos riscos.
O que prevalesce aqui é o talento de Corbijn como um esteta e como um diretor de atores, criando interações convincentes entre seus dois protagonistas. Há a atitude estoica de James, a obstinação de Dennis e mais uma série de razões para conflitos entre os dois, mas tudo é tão sutil e natural que são evitados os lugares-comuns da maioria dos filmes do gênero. Essa sutileza, porém, pode ser tamanha a ponto de criar um distanciamento do espectador em relação à trama.
O grande trunfo de Life é sua estrela, afinal. Confesso que, inicialmente, torci o nariz para DeHaan no papel de Dean, mesmo sendo admirador de seus outros trabalhos. Fico feliz, porém, de dizer que esta é, sem dúvidas, sua melhor performance até agora, sendo o bastante para injetar vida tão necessária em uma obra tão desorientada por suas próprias possibilidades. Life – Um Retrato de James Dean é melhor visto como uma elegante e bem-intencionada tentativa de resgatar umas das histórias mais fascinantes de Hollywood.
Em um certo ponto do filme, Stock explica a finalidade de uma fotografia em uma simples frase: “Eu estive aqui e você também”. Apenas se este filme transmitisse a mesma sensação…