Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder

Crítica: Liga da Justiça de Zack Snyder

“Volte para os vivos”, diz Martha Kent (Diane Lane) a Lois Lane (Amy Adams), ausente no trabalho e em processo estendido de luto após a morte de Clark Kent / Superman (Henry Cavill) em Batman vs Superman. Morte esta que deixou uma larga sombra sobre o mundo e seus desdobramentos. A fala, de certa forma, evoca também a real história por trás de Liga da Justiça de Zack Snyder: é a volta do diretor ao ofício deixado após um evento trágico em sua vida, a morte de sua filha Autumn – a quem o filme é dedicado.

Fazendo aqui a sequência para seu corte de diretor de BvS, Snyder mostra que aprendeu com as críticas direcionadas ao longa anterior e investe em uma aventura mais equilibrada no tom, algo que havia sido excessivamente retrabalhado no corte de cinema comandado por Joss Whedon. É de se impressionar o quanto do que era coeso na versão original vinha de Snyder, e o corte estendido permite que tais elementos respirem em um ritmo mais natural. Temos aqui as intenções iniciais do autor preservadas sem qualquer manipulação cínica.

Visualmente, no entanto, Liga da Justiça de Zack Snyder sofre um pouco com outro tipo de manipulação: uma correção de cor agressiva que busca os tons de cinza dos longas anteriores de Snyder para o DCEU. Em decorrência disso, a maioria das cenas de ação acaba se amontoando em uma grande massa cinzenta, com um CG extremamente carregado e visualmente “barulhento”. Apesar disso, é necessário reconhecer o que melhorou, tal como a aparência do vilão Lobo da Estepe – cujo visual original beirava o patético. Sem dúvidas, um upgrade e tanto. 

Dividido em sete capítulos, Liga da Justiça de Zack Snyder avança com progressão temática consistente – sim, desta vez temos temáticas, a paternidade sendo a que mais se destaca no resultado final. O longo filme poderia ser facilmente acompanhado como seriado, dadas as divisões feitas, e imagino que será assim apreciado por aqueles que não possuem o costume de ver filmes com mais de duas horas de duração. Mas independente disso, a trama corre com naturalidade em suas mais de quatro horas, dando espaço para a apresentação das personagens.

Quem mais se beneficia da extensão é Ciborgue (Ray Fisher), que aqui possui um maior e mais expressivo desenvolvimento, estrelando desde novos flashbacks a cenas estendidas que agregam ao núcleo emocional da história. Além dele, é bom ver que o Flash de Ezra Miller também recebe cenas adicionais de grande efeito, atiçando a curiosidade por seu filme solo que nunca parece sair do papel. Há grandes momentos em termos de efeitos e composições visuais, que poderiam tirar proveito de uma exibição em IMAX mas que infelizmente não tiveram tal chance.

Os epílogos, infelizmente, não contam com o mesmo grau de cuidado. Amontoados e parcialmente rodados em plena pandemia, os desfechos – sim, no plural – parecem ambicionar demais por algo que talvez nem venha. Mas além disso, são executados sem a mesma primazia, por assim dizer, que as três horas e meia anteriores apresentam momentaneamente. Falo, especialmente, da cena estrelando o principal arqui-inimigo de Batman, o Coringa (Jared Leto), que mais do que tudo precisava desesperadamente de um foquista ao lado da câmera solta. 

Confinada a um lançamento em streaming e VOD, a Liga da Justiça de Zack Snyder deixa a impressão de que ainda tem muito a dar, com adições significativas que sinalizam o  – não tão possível – futuro do DCEU, que terá sua parcela de crentes clamando por sua existência. Apesar do – possível – sucesso deste novo corte, a continuação das ideias de Snyder ficará em cheque até segundo ou terceiro momento, permanecendo como uma simples pergunta: e se?

Disponível no Google Play.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.